Marina e a falsa "nova política" por Geraldo Galindo |
Qui, 28 de Agosto de 2014 02:16 |
Impressiona a quantidade de eleitores que se dispõem a votar em Marina Silva por ela supostamente representar a "nova política." Pesquisas revelaram percentual elevado de pessoas antes indecisas ou dispostas a anular o voto que viram nela uma opção. E esse enorme segmento do eleitorado - incluindo parcela considerável da juventude - pensa que a ex-senadora seria um alternativa à mesmice do cenário político e a negação aos partidos políticos tradicionais. Deveríamos então debater melhor se a acriana seria mesmo a representação da denominada "nova política”.
Aqui cabe lembrar que quando ministra de Lula, Marina contratou como consultor do ministério o preposto da Assembleia de Deus, Roberto Firmo Vieira, que utilizava as instalações do ambiente de trabalho para realizar cultos que incluía a presença da própria ministra e dos funcionários convocados. Pergunto: é uma nova forma de fazer política usar o dinheiro do contribuinte para a contratação de um pastor que vai usar a estrutura do estado pra fazer pregação religiosa? E se Marina tem certeza de que foi curada de uma doença incurável por um membro de sua igreja, então seria simples pra ela resolver o problema da saúde no Brasil: bastaria substituir o programa Mais Médicos por outro que se chamaria Mais Pastores. Ademais, as posições de Marina sobre o casamento entre os homossexuais, pesquisas com células tronco e direito ao aborto são contaminadas pelo fervor religioso de cunho conservador, posições frontalmente contrárias a quem almeja algo novo na política.
Mas é no terreno da economia e da visão do papel do estado que o eleitor em busca de uma nova política deveria analisar com mais rigor o que a candidatura Marina Silva significa. Os interlocutores escalados para tratar e falar do assunto são dois próceres do neoliberalismo no Brasil - Otto Lara Rezende e Eduardo Giannetti defendem o estado mínimo, política já aplicada no Brasil nos oito anos de FHC e que deixou o país em insolvência. A nova política econômica de Marina é a velha política econômica dos desastrosos governos do neoliberalismo no Brasil e na América Latina. E agravada: Marina já anunciou que se eleita colocaria em lei a independência do Banco Central, uma antiga exigência dos banqueiros e especuladores nacionais e internacionais, que nem FHC, submisso que era aos rentistas, ousou implementar. Talvez essa proposta tenha sido uma exigência de Neca Setúbal, herdeira dona do Banco Itaú, uma das mais influentes formuladoras do estafe de Marina e principal financiadora da campanha. Por fim, temos a questão da chamada governabilidade. Os que querem uma nova política devem ter em conta que é muito difícil ou quase impossível governar sem uma razoável base parlamentar e social. Marina sabe disso e quando integrante do governo Lula viu de perto como é necessário ter apoio no Congresso Nacional para não incorrer em riscos institucionais. Pois eis que agora, neste caso, efetivamente, Marina nos apresenta uma proposta de “nova política” ao afirmar que ela governará com os melhores quadros do PT e do PSDB. Ela parte do ilusório pressuposto de que dois partidos com diferenças programáticas tão marcantes conviveriam num eventual governo dando-lhe sustentação. Esse pressuposto delirante não leva em conta o posicionamento dos partidos, parte do princípio de que ambos aceitarão a miraculosa ideia sem questionamentos. Deve ser por essas e por outras que o grupo que integra a Rede é chamado de “sonhático” nos meios políticos. Concluindo, Marina não é nem representa nada que se possa chamar de “nova política”, no sentido de inaugurar novas políticas em benefício da maioria de nosso povo. A história política dela, as posições que vem adotando, as contradições entre seu discurso e prática, como vimos acima, indicam o contrário. A incorporação no discurso da velha política neoliberal de triste lembrança dos brasileiros, que resultou na entrega do patrimônio público, arrocho salarial, taxas de juros elevadas, baixo crescimento econômico menos investimento no social significa atraso, retrocesso, ataque às conquistas recentes de nosso povo. Se engana quem pensa ser ela uma terceira via na disputa eleitoral. Marina é no momento a segunda via da direita brasileira. |
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