O espetáculo “Narcissus”, contemplado pelo Edital Setorial de Teatro da FUNCEB - faz uma convergência no cenário teatral bem importante: são 40 anos de carreira da diretora, coreógrafa e dançarina Carmen Paternostro; uma década do grupo Toca de Teatro; a retomada do grupo Intercena, após mais de 10 anos da encenação do Evangelho Segundo Maria, no Forte do Barbalho; e mais uma estreia do ator Danilo Cairo (vencedor do Prêmio Braskem de Teatro, este ano), contando com a participação especial do experiente ator Rui Manthur, sob a direção de Paternostro.
“A vontade de criar que a gente tem é tão permanente que a gente não percebe que se passaram 40 anos. Eu continuo sempre inspirada a criar, com olhar atento à contemporaneidade e às dúvidas que nos levam adiante. Não acredito em “genialidade”, acredito em experimentação. É isso é que me move até hoje, acredita Carmem Paternostro.
Nesse encontro, eles mergulham no universo poético, mítico e filosófico de Narciso, uma das personagens mais intrigantes, polêmicas e controversas da história ocidental. Contudo, inclui citações de Cora Coralina, Mário Quintana, Osho, Manoel de Barros, Paulo Leminski, Fernando Pessoa, Ferreira Gullar e textos autorais.
O espetáculo dialoga com elementos da dança. O eixo não é propriamente o texto. A montagem se calca também no discurso corporal, e incorpora os recursos cênicos (música, cenografia, vídeo etc) como processo de dramaturgia colaborativa. A contracena se faz com todos esses elementos narrativos.
“Há quatro registros literários do mito de Narciso e, em torno desses, muitas variações. Os mais antigos são de Ovídio e Cânon, no século I , seguindo-se dois mais recentes, de Pausânias, no século II. Ovídio, em seu belo poema Metamorfoses, nos dá a versão mais conhecida e mais extensa, falando-nos da desventurada relação entre Eco e Narciso (...)”
Na versão de Ovído, o belíssimo Narciso teria vida longa, desde que nunca visse seu próprio rosto. Ao crescer, homens e mulheres se apaixonam por ele. Porém, o orgulho e a arrogância o fazem esnobar os admiradores - desprezando até mesmo as ninfas. Uma delas, chamada Eco, o amava incondicionalmente. Por conta desse desprezo as moças pedem aos deuses vingança. E assim a deusa Némesis o condena a apaixonar-se pelo seu próprio reflexo na lagoa de Eco. Encantado pela própria beleza, Narciso deita-se no banco do rio e morre. Logo depois: Afrodite o transforma numa flor: Narciso.
"Muito de Narciso está em cada um de nós. Isso poderá ser percebido no espetáculo, por meio de diversas questões da sociedade contemporânea: solidão, superexposição, carência, fragilidade... O avesso do mito de Narciso e o que está por trás desse comportamento esquizofrênico", conclui o ator Danilo Cairo.
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