O Festival de Teatro de Alagoinhas encerra sua programação com a apresentação do solo Rosas Negras, do Núcleo Afro Brasileiro de Teatro de Alagoinhas – NATA, com a interprete-criadora Fabíola Nansurê, direção de Diana Ramos e dramaturgia de Onisajé. O espetáculo, que fica em cartaz no dia 27 de agosto, às 20h, no Centro Cultural de Alagoinhas, é uma grande homenagem à mulher negra, em especial, a atriz Auristela Sá e a socióloga e ex-ministra da igualdade racial Luiza Bairros.
Rosas Negras é um espetáculo para falar da mulher negra do ponto de vista “das nossas vitórias”. “É afirmativo no sentido de abordar questões que nos machucam, mas de modo a mostrar como vencemos todas essas barreiras e como estamos desenhando o nosso futuro. Cansei de ver espetáculos que falem da mulher negra sempre no parâmetro da dor. Quero me ver em cena também no parâmetro da vitória”, declara Onisajé, que também assume a coordenação artística do NATA.
Este solo é uma ode à afirmação da autoestima da mulher negra em todas as instâncias. Uma contribuição na discussão e no rompimento dos estereótipos que comumente são atribuídos a elas. A respeito disso, Onisajé explica que ter uma referência é importante para a comunidade negra. Para o solo, ela buscou referência a respeito das Yamis, mães ancestrais, fonte primeira do poder feminino.
No Candomblé, existe uma cerimônia no processo de iniciação onde o poder feminino é representado por estas divindades. O texto é um ritual de saudações a elas e a todas as Yabás. “Juntei esse ritual com as histórias de mulheres negras que tanto contribuíram na luta por nosso empoderamento e emancipação, faço uma homenagem a elas todas citando algumas delas no texto do espetáculo”, pontua a dramaturga.
A respeito desse preito, Fabiola Nansurê fala que é uma satisfação imensa trazer a “voz de nós mulheres negras”. “Em poder falar de mim, das minhas ancestrais, de todas que não conseguem ou não tem coragem de falar. Quando eu me vi negra não foi nada fácil. Entender o lugar de fala, o processo de invisibilidade, a estética e a objetificação do corpo negro foi um tempo longo e árduo”, exclama.
Ela realça que Rosas Negras é uma referência para a juventude que precisa de referência. “Não é um clichê quando falamos que juntas somos mais fortes e que representatividade importa. É na infância que podemos plantar a semente da autoestima e da referência. É nesse momento que podemos fazer a mudança, pois mais tarde, ao longo da vida, vamos nos entregando sem conseguir lutar”, completa.
Concepção
Rosas Negras começa como Barro Mulher, passa por Parte-me e desdobra-se em Vernexo, solo de formação de Fabíola Nansurê para o Curso Profissionalizante em Dança da Fundação Cultural da Bahia (Funceb). “Foi lá que comecei a me interessar em falar de mulheres negras. Era 2012 e ocorreram vários assassinatos de mulheres em Salvador. Isso me tocou e virou uma urgência. Virou Barro Mulher. Mas, a vontade de falar de mulheres negras continuava”, recorda Nansurê.
O NATA encenou Exu - A Boca do Universo. Chegou o projeto Natas em Solos e oportunidade de fazer um espetáculo que pudesse falar a fundo da diversidade que é a mulher negra. “Quando escolhi Onisajé para escrever esse texto, disse que queria as mulheres ao assistirem se perguntassem porque perderam tanto tempo se achando feia, incapaz e se deixando ficar no lugar de mulher submissa. Em Rosas Negras, quero falar sobre coisas boas e felizes”
FICHA TÉCNICA