Peça que já foi encenada pela primeira vez com a antiga Cia. Anjos da Ema, criada através do projeto social Arte Cidadã e filiada a AAVE – Associação de Apoio à Várzea da Ema com parceria da Petrobrás no ano de 2007. Houve uma versão cinematográfica da peça com o mesmo título que foi gravada no mesmo ano no próprio povoado e lançado no dia 23 de agosto na Sala Walter da Silveira no Complexo da Biblioteca Pública dos Barris. Ano da primeira vinda de todos os participantes do projeto à Salvador. Foi no evento da primeira Mostra de Artes de Várzea da Ema com a apresentação da peça no Teatro Espaço Xisto Bahia e em seguida a exibição do filme e no final, coquetel para o público e imprensa local. Esse projeto foi desenvolvido no povoado de Várzea da Ema (Município de Chorrochó/Ba à 450 km de Salvador), depois de Canudos. Como se diz no texto da peça: “Um lugar perdido no nordeste da Bahia”. A montagem tem uma hora e meia de duração. Sinteticamente abordamos a saga do sertão baiano com personagens típicos nordestinos, sobretudo navegando no universo cinematográfico do cineasta Glauber Rocha, com nova roupagem de algumas cenas do primeiro filme integralmente de sua autoria, “Deus e o Diabo na Terra do Sol”(1963), a peça é baseada no filme com acréscimos de trechos de textos fruto de uma pesquisa sobre o próprio Glauber, textos e cenas de três obras literárias do escritor canudense Eldon Canário (Sob a Égide do Amor, Os Mal Aventurados do Belo Monte e Cativos da Terra), dentre outros trechos de textos de Jorge Mautner, Fábio Paes, Flávio Herculano, Fagner (Antônio Conselheiro), Fábio Viana (Anjos do Arenoso – Antigo grupo de teatro fruto de um antigo projeto social na periferia de Salvador) e Afonso Penna com suas interferências textuais. Penna, além de dirigir, produzir e adaptar os textos, também atua na peça agora numa remontagem com a Cia. Psicodélicos de Teatro, sua Cia. Atual. A remontagem traz mais novidades para o público a nivel de um texto mais atualizado e com novas cenas que entraram na adaptação que mistura realidade com ficção, dentro do contexto da história. Na peça também se discute o acontecimento do povoado de Várzea da Ema que foi destruído por Lampião e seu bando por questões de desavenças com um antigo morador do local e que logo depois foi reconstruído pelos próprios moradores sobreviventes do massacre dos cangaceiros. Abordamos também a Estética da Fome com inspiração no movimento artístico-cultural Cinema Novo, capitaneado pelo próprio Glauber Rocha nos anos 60. Na montagem há personagens comendo terra, roubando e matando para comer, fugindo feito loucos, sujos, feios, descarnados, pedindo esmolas, festejando a própria miséria. Há também cenas poéticas, de amor com muita emoção, algumas pitadas de humor vindas dos personagens típicos do sertão. Cenas festivas, forró, xaxado, baião, Bumba-meu-boi, tiroteios, mortes e vidas secas são vistas com muita clareza agora em nova versão com os Psicodélicos. Procissão, religiosidade, expressões de pura fé entre os fiéis católicos do local, a importância das figuras de Antonio Conselheiro, Volta Seca, Dadá, Macambira, a sangrenta cena de morte de Corisco tendo sua cabeça decepada pelo personagem Antonio das Mortes para ser entregue ao Presidente da República. Os personagens evoluem-se na fome pela busca de matar a fome com planos de mãos, expressões corporais e faciais que são montados em alternância no plano terrestre. Na cena da abertura podemos discernir os traços específicos do miserabilismo social em coletivo na estética dos sintomas trágicos com forte presença da natureza num tratamento do espaço e enquadramento. Queremos situar a paz e a guerra da cultura do sertão em termos menos reduzidos que caracterizam a análise do espectador. O amor que esta violência encerra é tão brutal quanto a própria violência, porque não é um amor de complacência ou de contemplação, mas um amor de ação e transformação. Esta é a quarta montagem da Cia. Psicodélicos. As anteriores foram a Tragiblasfemiaorgia (1999), O Crepúsculo do Intróito da Concreta Prosopopéia da Inteligência (2004) e Contos Extraordinários (2006). O sentimento de colaboração humana renova e revela nesta peça uma nova categoria de novidades emocionantes e surpreendentes, mas é necessário que a velha cultura do sertão seja revolucionária com inovação. A estréia da peça será totalmente dedicada a mãe do Glauber Rocha, D. Lúcia Rocha, falecida no dia 3 de janeiro de 2014. Presença confirmada do cinegrafista braço direito de Glauber, o Roque Araújo.

Ficha Técnica:

Direção e Adaptação de Textos: Afonso Penna
Assistentes de Direção: Nilma Abreu e Sara Andrade
Fotografia: Solange Rossini
Elenco:
Nilma Abreu
Sara Andrade
Martinho Santos
Emerson Ramos
Carlos César
Paulo Bronzze
Jadson Souza
Luana Mello
Bia Morais
Ana Vitória
Douglas Lopes
Bruna Barbosa
Josy Miranda
Afonso Penna