Eu continuo sendo eu se me vejo como outro? Com esse questionamento o espetáculo “O Feio”(do dramaturgo alemão Marius Von Mayenburg) propõe uma reflexão sobre o culto e a obsessão à beleza, e traz para o teatro questões sobre identidade, fragmentação e mercantilização estabelecida pela sociedade do consumo. Com direção de Mirah Laline, da  ATO Cia. Cênica, de Porto Alegre, a comédia conta a história de Lette, um engenheiro de sistemas privado do sucesso profissional por ser feio. Para resolver o “problema”, Lette encontra na cirurgia plástica a solução para ascender socialmente. Em Salvador, o espetáculo poderá ser conferido em três apresentações, de 19 a 21 de setembro, no Teatro ICBA / Goethe. 

“O Feio” recebeu, em 2012, indicações em nove das 12 categorias do Prêmio Açorianos, vencendo nas indicações de Melhor Espetáculo, pelo Júri Oficial, e Melhor Ator Coadjuvante ao ator Paulo Roberto Farias, e recebeu ainda o Troféu RBS Cultura de Melhor Espetáculo pelo Júri Popular. A empatia com o público, o entusiasmo da crítica e o sucesso de bilheteria consolidaram o espetáculo como destaque na cena teatral gaúcha. Em 2013 a montagem foi contemplada com o Prêmio de Teatro Myriam Muniz, na categoria Circulação, o que permitirá a apresentação do espetáculo nas cidades de Belo Horizonte (MG), Rio de janeiro (RJ) e São Paulo (SP), além de Salvador.

O espetáculo é marcado por cenas rápidas, entreatos multimidiáticos, transgressão sexual e de gênero, mesclados com doses de violência psicológica, nas quais Lette se enreda cada vez mais em situações inusitadas. Em uma das sequência – a empresa onde trabalha o proíbe de participar da promoção de sua mais recente invenção industrial, a tomada de alta tensão 2CK. Convencido – inclusive por sua mulher – da sua catastrófica feiúra, Lette acaba se dirigindo a um cirurgião plástico que lhe cria o rosto ideal, tornando-o irresistível à sua mulher, a uma série de admiradoras no circuito de palestras e até mesmo a chefe de uma grande empresa e ao seu filho gay.     

Sobre o espetáculo – A montagem do texto parte da investigação de linguagem que se vale do grotesco e da violência como efeitos de estranhamento. Em paralelo, um recorte estético permeado por influências da Pop Art, Figuração Narrativa de Peter Klasen e elementos de Performance Art contemporânea, compondo um mosaico polifônico teatralizado no espetáculo. A cenografia favorece transição de espaços (escritório-clínica cirúrgica-quarto) propostos no texto. Já o espaço cênico é fragmentado e ampliado por elementos multimidiáticos, recortes de audiovisual. O figurino se apropria da padronização do vestuário empresarial com quebras de cores que remetem e dialogam com as referências da Pop Art e Figuração Narrativa.

A sonoplastia do espetáculo é fundamental para o jogo cênico. Neste ponto, a investigação das sonoridades do ambiente cirúrgico e de engenharia mecânica, associados a uma energia frenética, possibilitou o encontro com o rock industrial, estilo musical apropriado para coreografias e quebras grotescas no espetáculo. “O Feio” também incorpora referências de músicas de talkshows, salsa, e romance nas abstrações cômicas da encenação.

Equipe: 
Direção: Mirah Laline           
Elenco: Rossendo Rodrigues, Danuta Zaghetto, Marcelo Mertins, Paulo Roberto Farias             
Figurinos: Marina Kerber     
Criação de Luz: Luciana Tondo e Lucca Simas      
Operação de luz: Luciana Tondo     
Cenografia: O grupo 
Vídeos: João Gabriel Queiroz e Maurício Casiraghi 
Operação de vídeos: Maurício Casiraghi     
Trilha sonora pesquisada: Mirah Laline     
Operação de som: Manu Goulart