O encontro de duas mulheres arrasadas pela guerra. Dorra, violentada por um grupo étnico inimigo durante o conflito na Bósnia. Kate, uma psicóloga que deixou a família nos Estados Unidos para trabalhar na escavação de valas comuns. Escrita pelo dramaturgo romeno Matéi Visniec, a peça Do sexo da mulher como campo de batalha na guerra da Bósnia, ou simplesmente A mulher como campo de batalha, se debruça sobre uma realidade que apenas parece distante. Em cartaz de 30 de setembro a 16 de outubro, de terça a quinta, 20h, no Teatro Vila Velha, o espetáculo é a quarta montagem do encenador Marcio Meirelles a partir de texto de Visniec.
A narrativa é construída a partir de alguns monólogos e diálogos entre as duas personagens, interpretadas pelas atrizes Iana Nascimento e Giza Vasconcellos. Dorra, inicialmente emudecida pela violência que sofreu, resiste às perguntas de Kate. Com o tempo, o silêncio dá espaço a respostas que alternam entre a agressividade e o medo, até que, ao se aproximarem, elas encontram uma na outra a possibilidade de reconstruir um equilíbrio.
A obra de Visniec é uma ficção, mas foi construída a partir de uma vasta pesquisa e de uma série de relatos de vítimas da guerra que arrasou a região dos Bálcãs, na Europa, durante os anos 90. Estima-se que durante o conflito da Bósnia entre 20 mil e 50 mil mulheres foram violentadas. O estupro das esposas, mães e filhas do inimigo étnico era como o golpe de misericórdia dado pelo guerreiro, como uma estratégia militar para desmoralizar seu inimigo. Na Guerra da Bósnia, o sexo da mulher tornou-se um campo de batalha.
Montado pela primeira vez no Brasil, o espetáculo aproxima da realidade do país as discussões sobre as violências sexual, étnica e de gênero, a guerra, o poder, o imperialismo, entre outros temas levantados pelo texto. Recursos tecnológicos como projeções audiovisuais e transmissão de vídeos em tempo real auxiliam na construção da dramaturgia. A trilha sonora é assinada por Caio Terra.
Acessível a todos
A Mulher como Campo de Batalha é um dos três espetáculos da programação do Teatro Vila Velha que vão ser apresentados de forma acessível a pessoas com deficiência visual e auditiva. Através do projeto Teatro para Sentir, a primeira semana de apresentações (dias 30/09, 01 e 02/10) contam com intérprete de libras e audiodescrição. Além deste, as peças Relato de uma guerra que (não) acabou, do Bando de Teatro Olodum, e Bonde dos Ratinhos, peça infantil de Zeca de Abreu, também integram o projeto de acessibilidade.
Quarta obra de Matéi Visniec nos palcos baianos
Esta é a quarta peça de Visniec montada na Bahia, todas dirigidas pelo encenador Marcio Meirelles. A primeira delas, Espelho para Cegos, foi assistida pelo autor em visita ao Teatro Vila Velha, em 2013, junto à leitura dramática de Por que Hécuba, texto traduzido e montado pelo Teatro Vila Velha em janeiro de 2014 e que volta aos palcos em outubro, dentro da programação do Festival Internacional de Artes Cênicas (FIAC). O terceiro espetáculo, O Último Godot, teve estreia em maio deste ano, com os atores Leno Sacramento e Vinicius Bustani.
De volta à Bahia
Em outubro deste ano, o roteirista e escritor Matéi Visniec volta a Salvador para participar da Festa Literária de Cachoeira, onde compõe, ao lado do diretor teatral Marcio Meirelles e do dramaturgo Gil Vicente Tavares, uma mesa redonda com o tema “Cortinas abertas: do palco aos livros”, no dia 31 de outubro, sexta-feira, às 15h, em Cachoeira.
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