Na nova peça, ela apresenta o encontro de amizade entre duas crianças solitárias. Uma delas é Maria da Graça – que não sabe muito bem como fazer amigos de verdade, convive com sua pequena família e conversa muito com a Girafa, seu único confidente. Já Pedro é um menino que não toma sol, não sabe andar de bicicleta e tem medo de sair de casa. Vive com a mãe e adora comer sonhos.
“É a segunda vez que arrisco rabiscar uma peça para crianças”, diz Paula Lice, autora de Miúda e O Guarda-Chuva, peça que virou curta-metragem e está em processo de finalização como longa de animação. “Eu gosto de criar para crianças porque elas quase sempre me surpreendem. E também porque, a meu ver, elas experimentam melhor a curiosidade e a abertura, sem cansaço, ao que há por conhecer. Chego aqui com todas as histórias que li, ouvi, vi e vivi”, apresenta a autora.
Não à toa, em Para o Menino-Bolha, à trajetória dos personagens principais, ela entrelaça várias outras histórias e mistura referências que passeiam por filmes, livros e outras peças teatrais. As duas tias-avós de Maria da Graça, por exemplo, chamam-se Ilíada e Odisseia, que, junto com o tio Ulisses, vão agitar um pouco a vida sobrinha. Tem ainda a mãe de Pedro, Neusa, e a vizinha, Dona Quel, que faz sonhos e cuida do garoto quando sua mãe demora de chegar em casa.
Equipe
Para o Menino-Bolha tem trilha-sonora original de Ronei Jorge e João Milet Meirelles, que formam o projeto Tropical Selvagem. Com Ronei, Paula retoma uma bem-sucedida parceria, iniciada em Miúda e o Guarda-Chuva e que passa pelo premiado curta Jessy. Fazem parte também da equipe do espetáculo, o figurinista Rino Carvalho e fotógrafa Mayra Lins, que assina a direção de arte.
Outras duas parcerias de Paula fazem parte da equipe, essas de “longas datas”, como ela mesmo diz. Márcio Nonato faz o desenho de luz do espetáculo e Lia Lordelo integra o elenco como Alice e Neusa, ao lado de Daniel Calibam (Ulisses/Tia Odisséia), Felipe Benevides (Pedro), Igor Epifânio (Girafa/ Tia Ilíada), Saulo Moreira (Dona Quel) e Yoshi Aguiar (Maria da Graça). Todos eles colaboraram dramaturgicamente para o espetáculo, sugerindo mudanças e rumos dos personagens do texto. “Para mim, histórias se constroem assim, ouvindo aqui e ali”, brinca Paula Lice, para então afirmar: “O exercício de criar em boas parcerias torna mais viáveis e mais bonitas as escolhas”.
Escritora, diretora, dramaturga, atriz e cineasta, ela é uma das artistas baianas de destaque da sua geração, numa trajetória artística que alterna linguagens e funções. “Não acho que, hoje em dia, seja possível medir qualidade por especialidade radical em um segmento exclusivo. Tenho muito mais interesse por cruzamentos, interfaces, instabilidade e terrenos movediços”, observa.
O espetáculo é uma realização de A Pequena Sala de Ideias, um território de criação, produção e colaboração artísticas, que alinhava projetos culturais nas áreas de teatro, dança, literatura e audiovisual, idealizado por Paula. O plano é impulsionar a manutenção e recriação de trabalhos artísticos realizados em diferentes períodos e contextos, além de fomentar novos encontros artísticos. |