O fracasso de Meirelles, por Paulo Kliass |
Economia | |||
Qui, 03 de Agosto de 2017 06:53 | |||
A data de sua nomeação ocorreu há quase 15 meses, em 12 de maio de 2016. O mais longevo presidente do Banco Central do Brasil acabava de marcar seu retorno ao setor público federal. A ironia da História não tem perdão. Aquele por quem Lula tanto batalhou para que ocupasse o mesmo posto no governo Dilma, então retornava ao comando da política econômica pelas mãos de Temer. Para tanto, Henrique Meirelles pediria afastamento de suas funções como presidente do conselho da J&F para assumir a cadeira no Ministério da Fazenda. A fundamentação retórica do grupo que chegava ao poder na esteira do golpeachment que foi implementado sem nenhuma base jurídica baseava-se na crítica à irresponsabilidade do governo anterior no trato das contas públicas. Dilma havia sido acusada de praticar as chamadas “pedaladas fiscais”, uma vez que a situação dos gastos públicos estaria sem nenhuma capacidade de controle. A narrativa liberalóide do “menos Estado” ganha presença no discurso no governo que vinha de se apossar do Palácio do Planalto. Para o rame-rame da economia, Meirelles articulou suas intervenções em 3 pontos: i) retomada do crescimento da atividade e do emprego; ii) fidelidade canina às metas fiscais; e, iii) negativa permanente da elevação de impostos. “Se não houvesse essa retomada, da qual já estamos vendo antecedentes e deve ocorrer, seria a maior [recessão] da História brasileira”, explicou o ministro. “Essa retomada que estamos vendo para os próximos trimestres evita que seja a maior da História, mas ainda será a maior desde 1931". Mas a comunidade do sistema financeiro não precisava se preocupar. Afinal, seu padrinho havia garantido algumas semanas antes que não abriria mão de sua obediência cega aos ditames do austericídio. A política monetária estava cargo de colega do BC, mas as metas fiscais sob responsabilidade do Tesouro Nacional seriam imexíveis. O foco no corte de despesas a todo custo se justifica pela segurança fornecida por Meirelles de que alterações de objetivos da política fiscal ao longo do ano era atitude típica de irresponsabilidade populista, coisa do passado. Daqui prá frente, tudo vai ser diferente. “Minha maior preocupação é com metas que não se confirmam ou medidas que não são suficientes” Finalmente, em setembro, o mandarim da Fazenda repetia pela enésima vez aquilo que soava como concerto de violino aos ouvidos da turma do impostômetro e do sonegômetro. A cantilinária do Estado mínimo não aceitava de modo algum que o governo lançasse mão do aumento de tributos para melhorar a situação de suas contas. Pelo contrário, os representantes dos empresários contavam, como sempre, com as benesses e as bondades em programas de desoneração, isenção e perdão de dívidas tributárias. De acordo com Meirelles, "Com os dados que temos agora, não será necessário aumento de impostos. Portanto, no orçamento de 2017, segundo o projeto de lei apresentado, não está previsto o aumento de imposto", disse Meirelles após a apresentação da proposta. Estratégia fracassada. Com o passar do tempo, foi se evidenciando a incapacidade da equipe econômica em cumprir o prometido. A crise política foi se aprofundando, junto com o abismo da popularidade do presidente ilegítimo. Aquela que parecia de início com uma aliança de ganhos recíprocos entre Temer e Meirelles, aos poucos foi assumindo a forma de uma gravura retratando um abraço de afogados. a) a retomada do crescimento ainda está longe de se confirmar, com o fundo do poço sendo cavado a cada dia ainda mais fundo. b) a garantia de não recorrer ao aumento de impostos se desfez assim que as dificuldades de receita tornaram-se evidentes pela queda da atividade induzida e desejada pela política austericida. c) a flexibilização da meta fiscal de um déficit primário R$ 139 bilhões subiu no telhado. O governo já fala quase abertamente na necessidade de aumentar a meta para R$ 159 bi ainda para 2017.
Foto El Pais Artigo publicado originalmente em http://www.cartamaior.com.br/?%2FEditoria%2FEconomia%2FO-fracasso-de-Meirelles%2F7%2F38570
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