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A guerra do spread bancário por Luis Nassif
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Economia
Qua, 18 de Abril de 2012 12:57

luis_nassifCom a guerra ao spread bancário, a presidente Dilma Rousseff dá início ao lance mais audacioso da sua política econômica: o desmonte do aparato econômico introduzido pelo plano Real e que deixou praticamente todo o setor público à mercê do jogo financeiro.

Consistiu, de um lado, em redefinir a composição do Conselho Monetário Nacional (CMN), afastando representantes do meio empresarial e concentrando a decisão nas mãos do Banco Central. O BC tornou-se território exclusivo de bancos de investimento, pautando todas suas decisões pela ótica do mercado.

No plano federativo, instituiu-se a DRU (Desvinculação das Receitas da União), tirando recursos dos estados.

A partir de 1995, com a queda acentuada da atividade econômica em função da alta pornográfica da taxa Selic -, os estados se viram quebrados. O governo então passou a condicionar empréstimos do BNDES (Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social)  à venda das estatais estaduais. Como os títulos de dívidas dos estados pagavam um ágio absurdo sobre as já absurdas taxas Selic, houve a renegociação da dívida que enfiou goela abaixo dos estados contratos leoninos, praticamente acabando com sua autonomia financeira.

Conforme já demonstrado aqui, a política monetária impunha um preço altíssimo ao orçamento público obrigado a bancar juros extorsivos com efeitos quase irrelevantes sobre o custo do dinheiro, na ponta.

Entre as taxas de captação e de empréstimo dos bancos, os mais altos spreads do planeta.

Esse modelo pernicioso trouxe inúmeros prejuízos ao país. É verdade que criou um sistema financeiro robusto ? e que terá papel relevante daqui para frente, quando as distorções forem corrigidas. Mas impediu o deslanche da atividade econômica, consumiu recursos preciosos para pagamento de juros, atrasou o desenvolvimento do mercado de capitais, devido ao primado da renda fixa.

Em fins de agosto passado, Dilma deu início ao desmonte do modelo financista. A primeira grande batalha foi a redução da taxa Selic pelo BC, provocando grita e terrorismo por parte de consultorias.

Nos meses seguintes, ao contrário dos prognósticos terroristas, a inflação começou a cair. Este ano deverá continuar caindo, exclusivamente porque influenciada pelos preços internacionais dos commodities ? que começaram a cair.

Agora, começa a ofensiva pela queda dos spreads bancários, iniciando pela redução das taxas pelo Banco do Brasil e a Caixa Econômica Federal.

Nesse ínterim, Dilma firmou aliança com alguns dos grandes bancos privados que têm tradição histórica de colaboração com as diretrizes de governo.

Não se trata de voluntarismo, nem de atitudes imprudentes. No início haverá resistências localizadas dos bancos. Depois, com o pragmatismo que os caracteriza, sua energia deverá se voltar para ganhos de escala em um ambiente de spreads baixos.

Será a maior mudança no ambiente econômico brasileiro desde que o Plano Real acabou com a inflação, mas deixou como herança as maiores taxas de juros do planeta e uma dívida que paralisou o crescimento público por 15 anos.

Como era previsto, os bancos privados acabaram seguindo os caminhos do Banco do Brasil e da Caixa Econômica Federal, de redução das taxas de empréstimo.

A razão é simples: estava começando uma revoada de clientes para os dois bancos públicos, valendo-se da portabilidade o direito de um correntista de transferir sua operação de crédito para um banco concorrente.

A crise de 2008 já havia permitido um notável crescimento dos bancos públicos, ocupando o espaço aberto pelos privados, quando pisaram no freio. Aparentemente, não quiserem repetir o erro.

Nas duas oportunidades 2008 e agora observam-se os mesmos repetidos erros de análise de comentaristas ideológicos.

Em 2008 diziam que haveria um festival de inadimplência nos bancos públicos. O terrorismo provocou uma queda inicial nas ações do BB, depois de destituída uma diretoria pouco propensa a ampliar as operações. Nos meses seguintes, houve crescimento expressivo dos seus ativos, obrigando a banca privada a correr atrás do prejuízo.

O mesmo ocorreu agora, com a redução expressiva, por parte do BB e da CEF, das taxas de algumas linhas de crédito.

Os mesmos comentaristas de sempre prognosticaram que a iniciativa era temerária, que não seria acompanhada por outros bancos. Erraram de novo.

É acachapante a incapacidade desse pessoal de analisar a dinâmica da economia, as mudanças de etapa. Fixam-se na defesa cega de privilégios, em uma visão estática da economia, em uma insensibilidade total sobre os mecanismos de funcionamento do mercado.

Ainda há muito a caminhar. Mas a redução de juros pelo Banco Central -, do spread pela competição bancária -, quando trouxer o custo final do dinheiro para níveis civilizados, provocará uma revolução no setor bancário-financeiro.

Nas últimas décadas praticamente não houve competição bancária. As escandalosas taxas de juros patrocinadas pelo BC, os lucros extraordinários, sem muito esforço, a ausência de mudanças estruturais na economia inibiram qualquer forma de competição.

Em outros tempos, o processo de industrialização, o surgimento de novas atividades, o desbravamento de regiões pioneiras, permitiram que bancos se diferenciassem pela sua atividade principal: a capacidade de financiar o desenvolvimento.

Foi assim com o Banco Francês e Italiano, antes da Segunda Guerra, com o Banco do Commercio e Indústria de São Paulo, financiando o café, com o Bradesco financiando a expansão da economia para o Paraná e os novos setores, com o Banco Moreira Salles montando suas alianças com grandes bancos internacionais, o BIB desenvolvendo o mercado de capitais.

Nos próximos anos, crescerão os bancos que conseguirem popularizar o varejo, atender à imensa legião desbancarizada e aos exército de novos empreendedores, que se seguirá à ascensão da nova classe C, a criar ferramentas de captação que compensem a queda de juros da poupança, a avançar nas novas regiões de crescimento dinâmico.

Será a maneira do setor bancário recuperar a legitimidade perdida, a ter uma função econômica relevante, garantindo seus lucros através dos ganhos de escala não dos spreads escandalosos.

Artigo publicado originalmente em www.luisnassif.com.br

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Última atualização em Seg, 14 de Maio de 2012 00:27
 

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