Estudo de Harvard revela que desemprego é o fator que mais provoca divórcios (e expõe consequências do machismo). Por Breno França |
Comportamento | |||
Ter, 03 de Outubro de 2017 03:59 | |||
Não é sobre ajudar com trabalhos domésticos. Também não é sobre a mulher ter o próprio emprego. Nem sobre o homem passar muito tempo trabalhando e pouco com a família.
Pelo contrário. Um estudo recente da Universidade de Harvard indicou que a principal causa de divórcios nos Estados Unidos é o desemprego dos homens. Para chegar a esta conclusão, a professora e socióloga Alexandra Killewald analisou mais de 6300 casamentos heterossexuais realizados nos Estados Unidos entre 1968 e 2013, nos quais os parceiros tinham entre 18 e 55 anos e estavam no primeiro matrimônio. Desse total, 1684 acabaram em divórcio e tiveram suas causas analisadas em comparação aos casamentos duradouros. A pesquisadora decidiu realizar o estudo porque, segundo ela, a maioria das pesquisas que já analisaram fatores econômicos do divórcio se concentram apenas nas características das mulheres. Por assim dizer: (1) se ela tem sua própria carreira; (2) se tem ajuda nos trabalhos domésticos; (3) se é independente financeiramente; e (4) se teria estabilidade após a separação. Killewald alerta que embora os homens tenham recebido menos atenção dos estudos acadêmicos, eles também levam esses fatores em consideração em casos de divórcio. Foi então que, decidida a estudar também as condições do marido num cenário pré-separação, ela chegou à conclusão que surpreendeu a todos: o desemprego do homem na relação é o fator que mais gera divórcios. Os motivosIntitulado "Money, Work, and Marital Stability: Assessing Change Segundo ela, é nessa data que começam a se consolidar os matrimônios que já levam em consideração mulheres que queriam e estudaram para ter suas próprias carreiras e não para serem apenas cuidadoras do lar. Ou seja, é nessa data que as primeiras consolidações da segunda onda do movimento feminista nos Estados Unidos começam a se refletir nos dados analisados. A partir desse marco, a pesquisadora investigou hipótese por hipótese levantada, começando pelo emprego em tempo integral das mulheres:
Já sobre a maior participação dos homens nos trabalhos domésticos, Killewald declarou:
O que a pesquisa foi capaz de solucionar sem dúvidas, diz respeito ao desemprego do homem e seu impacto no divórcio:
As explicaçõesAs mudanças a partir de 1975 e o fato de que o (des)emprego masculino é tão preponderante para o (in)sucesso do casamento sugerem a mesma coisa. As relações e as expectativas entre os gêneros dentro de uma relação heterossexual estão sendo transformadas, mas em ritmos diferentes. Ainda que lento em ambos os casos, a pesquisa indica que as mulheres estão conseguindo se livrar das amarras do sexismo mais rápido do que os próprios homens. Ou seja, elas sofrem mais com os efeitos do machismo, mas também estão combatendo isso de forma mais efetiva do que eles. Objetivamente: enquanto a divisão de tarefas em casa e a independência financeira das mulheres é algo que vem caminhando cada vez mais para o comum, a responsabilidade do homem como provedor maior da casa continua.
A pesquisadora também explicou como isso efetivamente se reflete no término dos relacionamentos:
No entanto, a própria professora faz a ressalva de que mais pesquisas seriam necessárias para tirar conclusões sobre isso. Ela argumenta que a quantidade de famílias deliberadamente não-tradicionais ainda é pequena. Ou seja, ainda há poucos casais nos quais o homem escolhe cuidar da casa e dos filhos enquanto a mulher trabalha fora. Nos dados analisadas pela pesquisa em questão, em 2012, apenas 20% dos pais que estavam em casa, fizeram essa escolha consciente com o objetivo de cuidar da família. Sobre esse contexto especificamente, nós do PdH fizemos uma entrevista há não muito tempo com o Marco Antônio DiPreto para a nossa série Caixa Preta:
A essa altura, porém, você deve estar pensando que no Brasil esses dados podem ser diferente e, de fato, não há pesquisas que confirmam se o desemprego masculino tem fator decisivo nos divórcios realizados aqui no país, mas nós mesmos do PapodeHomem fizemos recentemente uma pesquisa completa junto à ONU Mulheres que indicou, entre outras coisas, que 44% dos homens se sentem pressionados por ser o provedor da casa, mas não falam sobre isso: Tudo isso só indica que os efeitos do machismo seguem afetando homens, mulheres e a relação entre eles. Nós já falamos sobre o assunto em diversos outros artigos (linkados abaixo), mas agora queremos te ouvir: Afinal, você acha que perder seu emprego poderia acabar com o seu relacionamento? Leituras sugeridas para aprofundamento:
Artigo publicado originalmente em https://www.papodehomem.com.br/estudo-de-harvard-revela-que-desemprego-e-o-fator-que-mais-provoca-divorcios-e-expoe-consequencias-do-machismo
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