Os interventores e seus cúmplices. Por Luis Felipe Miguel |
Comportamento | |||
Qua, 09 de Fevereiro de 2022 02:35 | |||
O combate a Andifes e a transformação, no governo Bolsonaro, das universidades federais em espaços conflagrados, atravessados por perseguições Interventores nomeados por Bolsonaro criaram nova associação de “reitores”, para combater a “hegemonia esquerdista” na Andifes [Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior]. Não é algo folclórico. A Andifes cumpre papel essencial no meio de campo com o Ministério da Educação, na definição da distribuição dos recursos entre as instituições federais de ensino superior. Com o ministério nas mãos de um oportunista amoral, dedicado à destruição da educação brasileira, é fácil ver que a constituição da nova associação – autodenominada AFEBRAS – é uma jogada combinada, a fim de tumultuar o processo e ampliar a margem de manobra para retaliações contra as Universidades que permanecem sob gestão legítima. Temos muito responsáveis por esta situação, começando pelos governos democráticos que não se preocuparam em abolir a lista tríplice, acreditando que ela ficaria para sempre como ritual desprovido de efetividade. Somos responsáveis também todos nós, nas Universidades, que não fomos capazes de apresentar uma resistência forte a estes abusos. Às vezes, feridas dos processos eleitorais internos falaram mais alto. Às vezes, foi só covardia mesmo. De maneira geral, a solidariedade entre as instituições falhou, como se cada agressão dissesse respeito apenas à atingida. É responsável o Supremo Tribunal Federal (STF), que – Gilmar Mendes à frente – preferiu entregar as Universidades como moeda de troca, num dos momentos em que buscava uma “acomodação”, ao arrepio da Constituição, da democracia e dos direitos, com o bolsonarismo. Os interventores não são simplesmente pessoas com visão reacionária. Eles se dispuseram a participar de um processo deliberado de destruição de suas Universidades, transformadas em espaços conflagrados, atravessados por perseguições, o oposto daquilo que é necessário para o ensino, a aprendizagem e a pesquisa. Imagino que boa parte de seus cúmplices, aqueles que aceitaram cargos e posições de poder, foram movidos não por convicção, mas por simples oportunismo. Logo, logo, se os ventos mudarem como espero que mudem, estarão se “reinventando” e aparecendo como democratas, até como progressistas. Convém lembrar de seus nomes. *Luis Felipe Miguel é professor do Instituto de Ciência Política da UnB. Autor, entre outros livros, de O colapso da democracia no Brasil (Expressão Popular). Publicado originalmente na página do Facebook do autor.
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