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Os Bacanas derrotaram os Cafonas por Geraldo Galindo
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Comportamento
Sex, 23 de Julho de 2010 15:04
As pessoas de minha geração conheceram as seleções da Holanda de 1974 e a brasileira de 1982, as duas melhores que vi jogar. Os mais antigos falam da Hungria de 1954 que teria sido das melhores de todos os tempos. Em comum as três, o fato de não terem sido campeãs, fatos recorrentes no futebol, único esporte em que o melhor poder não erguer o título. Inicio esse artigo assim para entrar numa polêmica antiga sobre a forma de se jogar futebol no Brasil. Lembro antes que depois de 1982 nunca mais torci pela seleção brasileira, pois desde então, em minha humilde opinião, os sucessivos técnicos iniciaram um processo  que chamo de descaracterização do futebol brasileiro.

Com a derrota em 1982 da seleção que encheu os olhos do mundo e que é considerada por alguns como a melhor que tivemos,  alguns iluminados chegaram à triste conclusão de que aquele tipo de futebol estaria superado pela história, que o que importava era a "eficiência tática"; que futebol não é para espetáculo  e sim para resultados (um deles chegou a dizer, não sei se Parreira ou Zagalo, que 1 x 0 é goleada e que empatar é o que importa"). Os defensores do futebol alegre, dos dribles, das tabelas, ficaram ainda mais na defensiva quando o Brasil levantou a taça em 1984, com um dos times mais sofríveis da história de nossas seleções e provavelmente a da pior copa de todos os tempos em nível técnico. 

Este debate recorrente esteve presente agora na copa da África do Sul. Para deixar bem claro qual caminho seguiríamos a CBF escalou para técnico aquele autêntico representante do futebol retranqueiro, das botinadas, dos carrinhos, da deselegância (inclusive fora de campo) e da falta de criatividade. E para que não restasse dúvida alguma da aplicação desse conceito canhestro, o homem referência de Dunga foi um perna-de-pau violento, agressivo e covarde. Simplificando, o melhor futebol do  mundo deixou seus dois melhores jogadores em casa (Ganso e Neymar, além de meio-campistas de qualidade como Hernanez e Elias) para montar uma equipe com sete defensores e três atacantes. A tese esdrúxula do "grupo já formado"  e da prevalência do expiração sobre a inspiração impediu que os artistas de nosso verdadeiro futebol se fizessem presente no maior evento esportivo do mundo.

O ex-jogador  e atual comentarista Caio, ao final da partida contra a Holanda,  disse que aquela seleção não representava o futebol brasileiro. Resumiu bem. Eu diria que todos esses últimos técnicos da seleção e dos times  brasileiros em geral  vem estuprando o nosso verdadeiro futebol. Importaram aquele modelo burocrático  de algumas seleções européias e tentam empurrá-la goela abaixo num ambiente de características totalmente distintas, com a tese furada de que é essa a forma de vencer.

A primeira partida que assisti da Espanha na copa me deixou encantado. A seleção Barcelonhola perdeu por 1 x 0 para a Suíça. Eles ficaram com a bola em seu poder 80% da partida e chutaram 26 vezes a gol. Tomaram um no contra-ataque. Alguns comentaristas apressados começaram a dizer que aquele tipo de futebol não tinha futuro. Ao término do jogo a comissão técnica e os jogadores se reuniram e chegaram à seguinte conclusão: não vão mudar em nada a forma de jogar. Eu gostei tanto da partida em que para quem eu torcia foi derrotado, que vi os reprises  na madrugada. Ficara eu encantado com tanta categoria, tanto toque de bola, tantas tabelas, tanta qualidade.
 
O resultado, todos acompanharam e eu acompanhei todas as outras partidas, umas menos, outras mais difíceis, mas o futebol era o mesmo, sempre a generosidade com a bola, sempre a arte se sobrepondo à pancadaria. Fique tão apaixonado com os espanhóis que mesmo depois da copa continuava a assistir aos jogos que se repetiam. São dezenas, centenas de jogadas plásticas. A bola sai do goleiro, vai de pé em pé, eles ficam rondando a área do adversário com paciência,  tranquilidade, e de repente ela volta  pro goleiro e começa tudo de novo. Assim eles vão minando a resistência do adversário e até encontrarem o caminho do gol.  Mesmo quando a marcação vem para o campo de defesa prevalece a calma para as jogadas fluírem, sem nervosismo, nada de chutões, nada de passes errados, nada de Gilberto Silva,nada de Felipe Melo. 

Na partida semifinal contra a Alemanha, outra bela seleção, muitos comentaristas disseram que os germânicos tinham amarelado, se acovardaram. Nada disso. Eles não tinham condições nem futebol para se impor a um adversário sabidamente superior. Quando um boxeador é nocauteado é por conta do golpe do contendor e não pela covardia do outro. Com a Espanha as partidas foram sempre assim. Mesmo tendo perdido para a  Suíça ela provou ter o maior futebol do mundo naquela partida e o resultado poderia ter sido 6 a 1 para o liderados de Xavi (para mim o maior jogador da Copa e dos melhores do mundo).

Jânio Ferreira Soares,  secretário de cultura da prefeitura de Paulo Afonso escreveu artigo no A Tarde onde diz que numa disputa pelo Oscar devemos torcer para vencer o melhor filme e não o filme de nosso país que concorre, sabendo ser este  de qualidade inferior. A propósito, lembro que quando o filme " A vida é bela"  levou a estatueta de melhor filme estrangeiro derrotanto o brasileiro "Central do Brasil", muitos adeptos da "patriotata" esbravejaram. A película  italiana era realmente muito superior, mereceria, penso eu, até mesmo o prêmio de melhor filme. Para Jânio, na copa do mundo deveria ser assim, e penso o mesmo. Não acho que devemos torcer para o Brasil apenas por sermos brasileiros, mas torcermos para que vença o melhor futebol, o que, convenhamos, é a materialização da justiça.
 
Volto agora ao início do texto para dizer que a Espanha nos fez lembrar as gloriosas seleções do Brasil (82) e Holanda (74 e 78). E que ao contrário das outras, faturou o título, comprovando que é possível sim, jogar bonito e vencer. Aliás, na maioria das vezes, vence quem joga bonito. Me defino  com daqueles rotulados de saudosistas, que prefere ver o time jogar bonito e perder do que jogar feio e ganhar. Exemplificando, eu amo a seleção de 82 e detesto a de 94. O futebol bacana humilhou o futebol cafona. Viva o futebol espanhol.

(*) Geraldo Galindo é comentarista esportivo, sexual

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Última atualização em Qua, 28 de Julho de 2010 09:16
 

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