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“Não vou deixar pedra sobre pedra". Por Robson Sávio Reis Souza
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Cidadania
Dom, 29 de Maio de 2016 03:59
robson_savio_reis_souzaNo dia 27 de outubro de 2014, um dia após ter vencido as eleições, em entrevistas a telejornais (veja aqui), a presidente legítima e constitucional Dilma Rousseff fez a seguinte declaração: "Faremos um combate sem tréguas à corrupção.
Nosso país não pode manter a impunidade daqueles que cometem atos de corrupção. Não vou deixar pedra sobre pedra. Eu vou fazer questão que a sociedade brasileira saiba de tudo".
Muitos brasileiros e, certamente, os grupos políticos (que historicamente assaltam o erário) e o partido da imprensa golpista não deram muita atenção a essa afirmação da presidenta. Seguramente, não conhecem a mulher de fibra, destemida e coerente que é Dilma. Todos fiavam nos velhos esquemas dos políticos tradicionais que adoram ameaçar, achincalhar, tripudiar dos adversários, mas, quando têm a faca no pescoço ou são pegos “com a mão da botija” afinam seus discursos, ficam mansinhos, mudam de opinião e cedem a todo o tipo de pressão para salvarem suas cabeças. Exemplo claro disso é o áudio de Renan Calheiros sobre a postura de Aécio Neves: “Aécio está com medo. [Me procurou dizendo]: 'Renan, queria que você visse para mim esse negócio do Delcídio, se tem mais alguma coisa.'”
Os áudios divulgados nessa semana envolvendo Jucá, Sarney e Renan confirmam com toda a clareza que os machões da política nacional estão literalmente se borrando à medida que as investigações da lava-jato sobre corrupção (apesar de altamente seletivas) vão avançando. Sarney, a raposa que andava sumida (porque, como tal, articula nos bastidores) estava extasiado com a postura coerente da presidenta: “Ela [Dilma] não sai. Resiste... Diz que até a última bala”. Noutro áudio Renan diz: “ela tem uma bravura pessoal que é uma coisa inacreditável. ”
Como escrevi anteriormente (veja aqui), a começar pelas declarações bombásticas do senador Romero Jucá, o segundo homem-forte de Temer, porque o primeiro é Eduardo Cunha, as gravações divulgadas essa semana são uma cristalina confissão da farsa golpista. Não comprometem apenas o ex-ministro do planejamento do governo interino, seu grupo político (seria mesmo um grupo?) e os conspiradores do golpe. Atingem o sistema de justiça, notadamente o STF; confirmam a participação descarada da imprensa golpista no processo fajuto; apontam para um "eles", o PSDB (o partido que perdeu as eleições e não aceita a derrota) e, finalmente, comprometem o interino. Afinal, segundo Jucá, Temer foi citado como se tivesse sido consultado a respeito da criação de um "pacto" cuja finalidade seria acalmar a sociedade (qual sociedade?) que estava angustiada com os efeitos da operação lava-jato. Noutra gravação, o interino aparece, novamente: Sérgio Machado, em conversa com Sarney, alega que ajudou Temer  na campanha de 2012: "O Michel, eu contribuí pra ele. Ajudei na campanha do menino [Gabriel Chalita]. Até falei com ele num lugar inapropriado", diz Sérgio Machado. (Veja aqui).
Jucá já tinha afirmado que “Temer deveria fazer um governo de salvação nacional”. Para salvar os homens e as mulheres de bens, um pacto, “construído por uma nova casta pura” –  expressão de fazer inveja a Hitler -, acabaria com as investigações de corrupção que atingem vários políticos, inclusive os tucanos, na figura de Aécio, “o primeiro a ser comido".
À medida que o folhetim de corruptos e corruptores foi sendo confirmado nas conversas já divulgadas ficou claro que as coalizões golpistas também estão na corda bamba, porque não têm governança sobre o mar de lama que poderá emergir nas confissões de gravações que ainda podem aparecer, dependendo das fontes e seus inconfessáveis interesses. Afinal, o tal áudio de Jucá teria sido gravado em março. Por que só agora apareceu a gravação? Seria isso obra do acaso?
O que está límpido até agora é que a promessa de Dilma Rousseff naquele 27 de outubro do ano passado não era tergiversação de político tradicional. A presidenta honrou sua palavra. Por incrível e kafkiano que pareça, Dilma é a única honrada nesse lamaçal putrefato.
Talvez, o maior legado até agora do governo Dilma, superando e muito nesse quesito o governo Lula, é o combate sistemático e profundo à corrupção generalizada que corrói nossas instituições políticas e o setor empresarial nacional.
Independentemente da reversão do processo fajuto, ilegítimo, ilegal e imoral doimpeachment, o país e o mundo conheceu, pela primeira vez na história, que as instituições políticas (partidos, executivo, legislativo e judiciário), as grandes empresas e os oligopólios midiáticos, ressalvadas poucas exceções, são um antro de corrupção, mediocridade e patifaria, entre outros inúmeros adjetivos.
E, por falar em mediocridade, para fechar a semana com mais um escárnio produzido pelos membros do governo interino, ainda tivemos que assistir a boçal e patética audiência do ministro da (des)educação, que recebeu em seu gabinete um ator acusado de fazer apologia ao estupro. Uma afronta aos educadores e educadoras deste país (veja aqui). No dia seguinte a conversa, ficamos sabendo do estupro de uma jovem de 17 anos, por uma quadrilha de 33 trogloditas conscientes da barbárie. Num país onde a cada 10 minutos uma mulher é violentada e, segundo o Ipea, 70% das vítimas são crianças e adolescentes, tudo parece normal, natural e abençoado (porque alguns líderes religiosos rasgam elogios a políticos sexistas, misóginos e corruptos e outros assistem impávidos ao espetáculo grotesco). Esses episódios são sinais inequívocos do retrocesso civilizatório que vivenciamos nesses tenebrosos dias. Diante de tanta violência real e simbólica, o comodismo e a sombra da neutralidade não são aceitáveis do ponto de vista ético e moral. Em face a ameaças de violações de direitos sociais e econômicos da população, quem não se posiciona será vomitado pela história como um verme. E poderá, também, prestar contas a Deus. Afinal, lemos no livro do Apocalipse: “mas, como és morno, nem frio nem quente, vou vomitar-te” (cf. Ap 3,16).
Ainda ficamos sabendo do encontro do ministro da saúde interino com uma turma que defende, sem temor e pudor, a velha política da casa grande: direito constitucional para os ricos; direito penal para os pobres. E, mais, noticiou-se acerca do financiamento do PMDB, PSDB, Solidariedade e DEM ao MBL, um agrupamento que dispensa comentários. Tudo divulgado em doses homeopáticas pelo partido da mídia golpista, para não assustar o povo. De agora em diante, operações policiais e judiciais poderão cumprir um papel de abafar os inúmeros escândalos do governo interino. Como é notório, o fim da corrupção nunca foi e nunca será o objetivo do PMDB, do DEM e do PSDB.
Há poucos dias, enviei o currículo dos homens brancos, ricos e velhos que formam o gabinete interino para uma amiga, professora em renomada universidade no exterior. Sua resposta: “Oh! My God!” Realmente, é de assustar. E assim, o governo interino vai se notabilizando como o mais medíocre da história nacional.
Para todos os efeitos, a hipocrisia dos homens e mulheres de bens deste país está escancarada. Por mais paradoxal, o golpe, graças a firmeza de Dilma em manter sua palavra, está desnudando a entranhas de uma elite (política, midiática, empresarial, religiosa) violenta, corrupta, medíocre e perversa.

Roberto Stuckert Filho/PR: <p>Brasília - DF, 11/05/2016. Presidenta Dilma Rousseff durante declaração à imprensa. Foto: Roberto Stuckert Filho/PR</p>

Artigo publicado originalmente em http://www.brasil247.com/pt/colunistas/robsonsavioreissouza/234905/“Não-vou-deixar-pedra-sobre-pedra.htm

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