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Um nortestino injuriado por Acton Lobo
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Cidadania
Qui, 11 de Novembro de 2010 18:33
Aproveitando toda a discussão em torno da "polêmica" gerada pelo comentário de uma "intelectual twiiteira", (segundo as sábias palavras de um amigo), resolvi romper o silêncio, alimentando com mais um texto, este espaço virtual.
Fiquei pensando sobre o acontecimento em si, li alguns e-mails de repúdio ao ato da "intelectual", que tem no currículo o curso de Direito como área de formação, mas que, pelo visto, desconhecia que a prática de racismo é crime inafiançável. Nada que cause espanto, considerando a qualidade de muitos cursos de "Direito" que existem por aí

Todo fato gerou uma revolta nacional. A OAB prontamente abriu um processo contra a "intelectual", a mídia já está fazendo a sua parte para a que questão não saia de foco, transformando assim, o ato, em um espetáculo. Jornais, revistas, sites, acenderam os holofotes, transformando em "novidade" algo que a história do nosso país não nos deixa esquecer: A arrogância sulista frente às outras regiões do país, principalmente, as regiões Norte e Nordeste.

Escrevo aqui uma lembrança àqueles que aplaudiram a nossa "intelectual", e por fim, um alerta.

Historicamente beneficiados por um projeto político que excluiu economicamente as outras regiões do país, São Paulo, juntamente com outros Estados do Sudeste, sempre se notabilizou por ser o "centro de luz", ou seja, de lá, todo desenvolvimento e produção cultural serviram de modelo e inspiração para a formação das regiões "obscurecidas" pelo atraso social e econômico. Regiões estas chamadas de periféricas, aqui, destaca-se a região atacada pelos comentários racistas.

A concentração de riqueza motivada por importantes ciclos econômicos, a destacar o ciclo do café durante o século XIX, contribui para o crescente investimento na região, auxiliando posteriormente na formação das primeiras industriais. Enquanto isso, a região Nordeste do país, desenvolvia-se economicamente tendo como base, a produção agrícola da cana de açúcar e a indústria fumageira, ambas neste período, já apresentavam um acentuado declínio em decorrência dos parcos investimentos nos setores e da gradual desvalorização da matéria prima no mercado internacional, contribuindo assim, para cada vez mais crescente migração forçada de muitas famílias em direção ao Sudeste.

Abandonados à própria sorte, em meio às adversidades, àqueles que permaneceram viram surgir "fenômenos" frutos do descaso nacional e da concentração de renda da elite nacional. Surgiu Antônio Conselheiro e Lampião; o primeiro motivado pela fé, buscava em uma terra prometida e mística, aquilo que não encontravam na "terra dos homens". O segundo, por sua vez, buscava na "terra dos homens" a vingança para aplacar as dores de viver em uma região sem justiça e igualdade. Em comum, todos alimentados pelo descaso patológico das elites, estas, meras caricaturas das elites europeias. Do Nordeste "místico" e "atrasado" surgiu o desejo de separação e o estranhamento frente ao progresso do Sudeste, sendo a eclosão da Guerra de Canudos o "despertador" necessário para acordar o Brasil dos seus sonhos.

Aos nordestinos que sobreviveram à longa viagem até o "centro de luz" restou a força e o empenho daqueles que lutaram em meio a uma estranha realidade. Estranha, cruel, insensível e fria. Como mão-de-obra barata construíram São Paulo em meio às péssimas condições de vida, porém, permanecendo firmes em seus costumes e tradições, almejando sempre poder voltar à sua terra, e assim, rever a família deixada para trás, entre sonhos, lágrimas e um ressentimento convertido no mais árduo labor.

Gerações de nordestinos forneceram ao Sudeste, a energia e vigor que ele tem hoje. Nutrindo as suas elites, preparando as suas refeições, cuidando de seus filhos, dirigindo os seus carros, limpando o chão que vocês pisavam, trabalhando duramente em meios às piadas e outras atitudes discriminatórias. Resistindo, sem abaixar a cabeça, ao processo de exclusão social e econômica, que seus antepassados iniciaram, e que vocês, contemporâneos, ingenuamente fazem questão de reproduzir.

Silenciosamente sem vocês "paulistas" se atentarem, nós nordestinos nos tornamos o Sudeste. Sim, o Sudeste! Prestem muita atenção em suas atitudes, em suas palavras, e mais ainda, em suas ameaças, pois, podemos implodir o seu modo de vida de um dia para o outro. Podemos acirrar revanchismos históricos, podemos também hostilizá-los, quando, durante as suas férias, vierem sorridentes e distraídos curtir sol e o clima do Nordeste. Ou melhor, quando vierem curtir o Carnaval na Bahia.

E onde entra a nossa "intelectual" nessa história? Se a história não foi capaz de alertá-la acerca da força que emana do Nordeste, que o presente sirva de reflexão. Por isso, tenham cuidado! Muito cuidado mesmo...


Acton, um nordestino "injuriado"...

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