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Os últimos 18 anos e os próximos, por Marcos Coimbra
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Cidadania
Qui, 04 de Outubro de 2012 20:39

marcos_coimbraOs primeiros 18 anos da Carta Capital foram marcados, na política brasileira, por uma decepção e uma grata surpresa. Ambas tão intensas que, muito provavelmente, continuarão a marcar os próximos 18.

A decepção veio de havermos experimentado a melhor opção que as elites tradicionais tinham a oferecer ao País e de a experiência ter sido considerada quase consensualmente frustrante. A boa surpresa foi o desempenho de uma pessoa do povo como presidente da República.

Quando Fernando Henrique Cardoso venceu a eleição de 1994, encerrava-se o ciclo dramático do retorno à democracia. Nos dez anos anteriores, havíamos passado por uma combinação particularmente negativa de crises e desafios: economia estagnada, hiperinflação e as tensões provocadas pelo esforço de construir uma ordem democrática depois de longa ditadura.

Como se não bastassem os problemas inevitáveis, ainda tivemos que lidar com infortúnios imprevisíveis.

A de 1994 não foi uma eleição para ser disputada, pois seu resultado estava encomendado  de véspera. Ninguém conseguiria bater um candidato apresentado como autor do mágico plano econômico lançado meses antes. Os eleitores foram às urnas maravilhados com o homem que, a golpes de genialidade, acabara de derrotar a inflação.

Com a mística do plano Real somada à legitimidade de sua trajetória de intelectual e político, FHC despachou a eleição no primeiro turno e tomou posse para inaugurar um “governo de 20 anos”.

Em seu círculo íntimo, ninguém acreditava que a esquerda teria forças, nesse horizonte, para se contrapor ao PSDB e à sólida aliança que formara ao centro e à direita. Povo encantado, empresariado satisfeito, políticos agradecidos, formariam o tripé de uma duradoura “pax tucana”.

E que não viesse alguém falar de alternância no poder! Como poderia ter dito Sérgio Motta, o “operador” desse plano: “Quem gosta disso é a oposição”.

Só o primeiro passo do projeto deu certo: garantir um segundo mandato a Fernando Henrique. No que foi, provavelmente, o mais bem-sucedido esquema de “conquista” de apoio parlamentar mediante “estímulos” de nossa história, as regras do jogo foram mudadas com a bola rolando (aliás, com muita bola rolando).

É possível que o fracasso do projeto de 20 anos peessedebistas tenha começado ali, com a obsessão de Fernando Henrique em permanecer no poder. O novo mandato acabou se revelando um péssimo negócio.

Seus problemas crônicos de imagem – pois ele nunca conseguiu estabelecer uma comunicação direta com a maioria da população e sempre foi percebido como distante e elitista - foram se agravando ao longo do primeiro governo, mas permaneceram sob controle pela aura de competência que o sucesso do Real transmitia.

Quando, no entanto, a moeda fraquejou na crise cambial de 1999, explodiram. Em outubro daquele ano, a aprovação do governo foi a 8%, menos que Sarney e Collor haviam obtido no pior momento.

Aí veio o “apagão” energético e até quem ainda gostava de FHC se assustou. Como explicar tanta imprevidência?

Faltando dois anos para completar o mandato, o mais ilustre representante das elites, o que de mais brilhante e habilidoso tinham a oferecer, havia se transformado em um presidente impopular, frágil e com imagem de incompetente. As principais políticas a ele associadas, como a privatização, pagavam o preço de ter sua marca.

Chega a ser cômica a insistência com que alguns teóricos da oposição explicam os insucessos de Serra e Alckmin por sua insuficiente defesa do “legado de FHC”. Deixaram de fazê-la para não cometer um suicídio eleitoral, que ninguém pode exigir de um candidato.  Não foi a ausência, mas a presença desse legado que derrotou os tucanos três vezes.

O fenômeno político mais importante dos últimos 18 anos começou com uma vitória eleitoral e tomou corpo quando Lula se revelou, aos olhos da vasta maioria do País, um bom - para muitos, um ótimo - presidente.

Foi uma notável campanha, que deixou as pessoas mais tranquilas e diminuiu o receio que tinham de arriscar. E a frustração com o outro lado era tamanha que a maioria resolveu que era hora de fazer a grande mudança.

É bom, para o sistema político de um país, que o chefe de governo seja uma pessoa querida, que represente os cidadãos com autoridade legítima. Melhor ainda quando, além disso, é competente e capaz de criar boas políticas.

Depois da grave decepção com Fernando Henrique, a população teve uma grata surpresa com Lula.

Nossas elites tradicionais achavam que ele era um remédio amargo que o Brasil precisava tomar para expeli-lo para sempre. Que, vencendo uma vez, faria um governo tão ruim que nunca mais alguém como ele teria chance.

Pensavam que, se 2002 tinha se tornado inevitável pelos erros de FHC, de 2006 Lula não passaria.

Passou. Se reelegeu e fez um segundo governo melhor que o primeiro, na opinião de mais de 90% das pessoas.

As velhas elites engoliram em seco e pensaram: “Que seja, mas de 2010 não passará”.

Passou, com um gesto de alto risco. Só ele para lançar a candidatura de alguém com o perfil de Dilma.

E ela está sendo outra grata surpresa. Tanto que tem larga vantagem em relação a qualquer nome da oposição nas próximas eleições. Em todas as pesquisas conhecidas, alcança perto de 60% das preferências, contra não mais que 10% a 15% dos possíveis adversários.

Seu segundo ano de mandato está terminando com a popularidade em alta e nada indica que enfrentará problemas em 2013. Pelo contrário.

Melhor que Dilma, só Lula, que atinge 70% quando é apresentado como possível candidato. Ou seja: hoje, parece muito provável que Lula e Dilma passem de 2014.

O que aproxima muito o PT de realizar o sonho tucano de hegemonia durante 20 anos.

E 2018? E se Lula resolve voltar? E se Dilma e ele vierem a alternar candidaturas? E se os 16 anos do PT se estenderem com novos nomes (como o PSDB em São Paulo)?

É nesse contexto que a atual histeria de um pedaço das oposições se explica. Tudo que puderem fazer para impedir a concretização dessas tendências está sendo e continuará a ser feito.

Não é por outra razão que transformaram o julgamento do “mensalão” em um circo. São poucas as oportunidades que têm para desgastar o PT e Lula. Não vão desperdiçar nenhuma. E vão fazer um jogo cada vez mais bruto.

Artigo publicado originalmente em www.advivo.com.br

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