A dificuldade em captar a voz das ruas por Luis Nassif |
Cidadania | |||
Sex, 30 de Agosto de 2013 23:26 | |||
É curiosa e assustadora a incapacidade dos partidos políticos brasileiros de intuírem os novos tempos. Nem mesmo quando os novos tempos aparecem de frente, mortais e fulgurantes como um iceberg gigante. A Constituição de 1988 consagrou – no papel – formas expressivas de participação popular através das Conferências Nacionais, do modelo SUS (Sistema Único de Saúde) e outros estatutos de cidadania. Os primeiros anos da Nova República foram tomados pelo fantasma da hiperinflação. Mesmo assim, houve respiros de organização na sociedade civil, gradativamente bebendo os ares democratizantes e se organizando. Fernando Collor foi o primeiro a intuir os novos tempos, de descentralização, abertura para o exterior, manifestação dos “descamisados”. Mas, com seu voluntarismo, foi um desastre político. Já Fernando Henrique Cardoso pegou a bandeira da estabilidade econômica. O Plano Real empalmou de tal maneira as aspirações nacionais do momento, que a oposição não conseguiu encontrar um discurso minimamente eficiente. A insensibilidade social de FHC – mais os erros de gestão na questão energética – abriram espaço para o novo discurso, calcado no social e na inclusão. Lula foi eleito sob essa bandeira e consolidou-a com a universalização dos programas sociais. Nesse ínterim, a sociedade civil foi ganhando cada vez mais consistência, agora impulsionada pelo fenômeno das redes sociais. Desde os anos 90, movimentos sociais ganharam força com a Internet. Nos anos 2.010 foi a vez da classe média se mostrar participante. Desde o advento da chamada nova classe C, discute-se nos dois lados – PT e PSDB - o próximo tempo do jogo. Ao construir o mercado de consumo de massa, o lulismo definiu o jogo e o vencedor dessa etapa. Mas abriu as portas para a segunda etapa, um novo quadro político radicalmente diferente do anterior. Esta é a riqueza dos processos sociais e econômicos. Há milhões de excluídos. Montam-se programas de inclusão. Incluídos, os novos cidadãos não tem a mesma natureza do pré-inclusão. Tornar-se-ão cada vez mais exigentes, cada vez mais ansiosos por democracia – isto é, pela participação nos destinos do país. Ora, essa é a dinâmica histórica das democracias. As manifestações de junho deixaram esse quadro bem à mostra. Mas todos – repito TODOS – os atores políticos, da presidência aos pré-candidatos, reduziram as manifestações meramente à questão da mobilidade e da qualidade dos serviços públicos. É muito mais que isso. No governo Lula houve alguns ensaios de participação popular ou participação qualificada. Esse novo modelo – aberto (ainda que de forma limitada) à colaboração externa - tornou obsoletas as políticas de gabinete praticadas na imensa maioria da administração pública. Mas não se avançou. Houve um refluxo no governo federal e nenhum avanço nos governos estaduais. Além de Dilma Rousseff, nenhum dos pré-candidatos – Aécio Neves, Eduardo Campos ou Marina Silva – entendeu a nova voz das ruas e das redes sociais. Não se quer apenas mais ônibus; o que se quer é participação.
|
Agenda |
Aldeia Nagô |
Capa |