O efeito tequila dos tucanos por Emir Sader |
Meio Ambiente & Sustentabilidade | |||
Seg, 14 de Setembro de 2009 09:07 | |||
Se os tucanos estivessem governando o Brasil - seja
com a vitória de Serra em 2002 ou de Alckmin em 2006 - os efeitos da crise que
o país está superando, seriam tão devastadores como foram os da crise de
janeiro de 1999.
O Brasil teria elevado a taxa de juros a alturas
estratosféricas - em 1999 foi para quase 50% -, os gastos públicos sofreriram
novo corte drástico, se assinaria novo acordo com o FMI, com a obrigação dessas
medidas, mais privatizações de empresas estatais, etc., etc., como o governo
FHC tinha acostumado ao país. Para não ir mais longe: teríamos o mesmo destino do México. Como os tucanos são adeptos dos Tratados de Livre Comércio - tinham comprometido o Brasil com a Área de Livre Comércio para as Américas, Alca, que o governo Lula enterrou - estaríamos sofrendo as mais duras e diretas consequências da recessão norteamericana. O México, ao assinar o TLC da América do Norte - o Nafta - teve seu comércio com os EUA elevado para mais de 90% do total. Podemos imaginar o tamanho da recessão mexicana. Calcula-se que a economia terá um retrocesso de 7% neste ano, sem perspectivas de recuperação. Não por acaso o governos do México bateu uma vez às portas do FMI, com as consequências que se conhece, pela assinatura de mais uma Carta de Compromisso. Combinam-se no México vários elementos explosivos de crise: para começar, um presidente neoiberal, Calderón, que procura dar continuidade ao programa de governo Fox, com a agravante de que triunfou por uma margen exígua de votos, com muitos indícios de fraude. Em segundo lugar, a profunda crise econômica, resultado das políticas neoliberais, agravada pela abertura econômica do Tratado de Livre Comércio assinado pelo México, com as consequências da recessão norteamericana. Em segundo lugar, a explosiva expansão do narcotráfico, com a aceleração da violência e da crueldade da ação das gangues e do exército e das polícias, fruto da situação limítrofe com os EUA, o maior mercado consumidor de drogas do mundo. Em terceiro lugar, a situação difícil dos trabalhadores mexicanos nos EUA, que sofrem mais diretamente os efeitos da crise: diminui a ida de mexicanos, porque os postos de trabalho diminuíram sensivelmente, ao mesmo tempo que diminui enormemente o envio de dólares para as familias mexicanas. O livre comércio trouxe para o México, inicialmente, a promessa de desenvolvimento econômico, que ficou no entanto restrito à fronteira norte, onde o trabalho de mulheres e crianças nao sindicalizadas atraía capitais pela superploração da mão de obra. Mas mesmo essa "vantagem comparativa" desapareceu, conforme a China, mesmo situada incomparavelmente mais distante, atraiu as empresas, pela maior qualidade da mão de obra, seu preço menor e, especialmente, a capacidade de consumo do mercado chinês. Hoje o México vive situação que viveria o Brasil, uma brutal ressaca do tequila com que os tucanos teriam embebado o país. Artigo publicado originalmente no site da Carta Maior
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