Governo Dilma e PT perderam a batalha da comunicação por Luiz Carlos Azenha |
Dando o que Falar | |||
Qua, 25 de Fevereiro de 2015 01:38 | |||
No dia em que Hugo Chávez foi derrubado, na Venezuela, em 2002, um episódio foi decisivo. Uma falsa notícia disseminada pelos meios de comunicação locais, que repercutiu em todo o mundo e deixou os próprios venezuelanos em choque. Mesmo eleitores de Chávez, aqueles que acompanhavam a crise à distância, ficaram sem ação. A falsa notícia era de que chavistas haviam atirado contra uma manifestação de oposicionistas que estava a caminho do Palácio Miraflores. Havia imagens para comprovar. Lá estavam eles, sobre a Ponte Llaguno, disparando suas armas. As imagens viriam a ser desmentidas, mais tarde, pelo documentário A Revolução Não Será Televisionada. Na verdade as emissoras venezuelanas haviam suprimido um dos ângulos do episódio. Por este ângulo, era possível ver que os chavistas, na verdade, eram alvo de franco atiradores e disparavam aleatoriamente. Eles não atiravam contra uma passeata, que nem havia passado por perto daquele lugar. Porém, a falsa notícia já havia feito o estrago. Chávez salvou-se por vários motivos: apoio popular, lealdade entre os militares e um esquema que permitiu a ele comunicar-se indiretamente com a população. Além, é lógico, das besteiras feitas por Pedro Carmona, o empresário escolhido para substituí-lo, que ao assumir fechou o Parlamento! Através da rede CNN, partidários de Chávez conseguiram superar o bloqueio informativo para dizer que o presidente não havia renunciado. Fizeram o mesmo através de meios comunitários para levar a mensagem aos morros de Caracas, onde ainda vive a grande maioria dos chavistas. Os morros desceram para diante do Palácio Miraflores para defender Chávez, que acabou reinstalado no poder. O episódio deixou marcas profundas no chavismo. A partir de então, uma das prioridades do governo foi equilibrar o jogo no campo das comunicações. Ao contrário do que diz nossa imprensa, nunca houve censura na Venezuela. Houve, sim, investimento em desenvolver meios através dos quais o governo pudesse falar diretamente à população. Além de um acerto de bastidores com o principal empresário do ramo, Gustavo Cisneros, que comandava então a principal emissora golpista. O Brasil, obviamente, nunca enfrentou um episódio tão dramático. No auge do assim chamado escândalo do mensalão, com várias CPIs instaladas ao mesmo tempo, o ex-presidente Lula decidiu ir às ruas se defender. Politicamente, virou o jogo. Obteve a reeleição, mas nunca saiu da defensiva. Já são 13 anos de noticiário desequilibrado, que poupa tucanos e criminaliza petistas. Lula optou, sempre, pela composição. O quadro econômico positivo permitiu que ele elegesse a sucessora, que se reelegeu pela menor das margens. Hoje, além do desgaste natural de três mandatos no Planalto, o projeto petista na economia dá sinais de esgotamento e o escândalo na Petrobras detonou a boa vontade da população com aqueles que promoveram a ascensão social de milhões de brasileiros. O desgate do PT ficou óbvio nas eleições mais recentes, quando as bancadas do partido encolheram. Como escreveu Valter Pomar, petista histórico, o governo Dilma enfrenta a “tempestade perfeita”, também por conta dos próprios caminhos que escolheu:
É nestas circunstâncias que o governo Dilma e o PT poderiam tirar proveito, mais que nunca, de um esquema de comunicação que permitisse a eles falar diretamente à população, sem passar pelos intermediários da grande mídia corporativa. Este esquema não existe. De maneira um tanto caricata, isso ficou demonstrado num episódio recente envolvendo o ministro da Justiça. José Eduardo Cardozo, todo pimpão, deu uma entrevista à TV Veja, crente de que estava abafando. Passaram-se alguns dias e lá estava ele, denunciado na capa da revista à qual deu a credibilidade de sua presença física! O governo Dilma continua hoje sendo o principal financiador da mídia que pretende não só derrubá-lo, mas salgar a terra por onde passaram petistas. O partido vai enfrentar uma eleição de vida ou morte em São Paulo, em 2016, quando Fernando Haddad tentará se reeleger para dar sustentação a um eventual retorno de Lula em 2018. Por causa da própria incompetência e mediocridade no campo das comunicações, o PT e Dilma estão perdidos diante da grande revolução que se deu nos últimos anos com o surgimento e fortalecimento das redes sociais. Mesmo a blogosfera, aos poucos, vai ficando com cheiro de naftalina. A comunicação instantânea e pessoal, especialmente via Facebook e whatsapp, equivale a um tsunami. O governo e o PT não estão preparados para esta disputa, que pressupõe que ambos deveriam estar em um dos polos da geração de conteúdo bombardeado e contra-bombardeado nas redes sociais. Esta disputa exige competência e rapidez, que são a antítese do comportamento que vemos vindo do Planalto ou de petistas com posições de poder. Exige uma atitude guerrilheira, como a demonstrada pelo senador Roberto Requião, armado com sua conta no twitter, um blog dinâmico e a TV 15, que transmitiu ao vivo os acontecimentos recentes no Paraná. Enquanto isso, a oposição nada de braçada, agora que conta com alguns milhares de militantes digitais dispostos a disseminar qualquer informação para minar as bases do governo. Recentemente, fui procurado pela minha diarista, que estava assustada: “É verdade que a Dilma vai confiscar a poupança?”. Respondi que havia acabado de publicar um desmentido do Ministério da Fazenda. Um desmentido, aliás, chocho, que duvidava da própria veracidade dos boatos que pretendia desmentir. Segundo a minha diarista, o boato era tema de discussão dentro do ônibus, com a maioria dos presentes desancando a presidente. Há dezenas de outros relatos a respeito no Facebook. Deixam claro que foi um boato de forte circulação via whatsapp. Que pode ter chegado a milhões de pessoas. É esse tipo de boato, que toca diretamente a vida das pessoas — o confisco, afinal, é uma ameaça! — que vai minando aos poucos o que resta da credibilidade do governo com aqueles que ainda não foram convencidos pelo Jornal Nacional de que o mundo vai acabar por culpa de petistas. Vai criando, silenciosamente, o caldo de cultura que alimenta a campanha do impeachment. Leiam o relato de Maria Luiza Quaresma Tonelli, no Facebook:
A batalha da comunicação, em nossa modesta opinião, está perdida. Talvez só mesmo uma grande derrota eleitoral seja capaz de provocar o despertar dos burocratas. PS do Viomundo: Recentemente, o prefeito Haddad deu uma entrevista à rádio Jovem Pan, que só repercutiu de fato depois de ir parar nas redes sociais! Sinal dos tempos. Artigo publicado originalmente em
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