“A prisão de Lula é o trofeu que Moro deseja”, diz decano dos criminalistas de SP. Por Kiko Nogueira |
Dando o que Falar | |||
Qui, 06 de Agosto de 2015 22:55 | |||
Paulo Sérgio Leite Fernandes, decano dos criminalistas de São Paulo aos 79 anos, é um crítico do juiz Sergio Moro e das delações premiadas na Lava Jato. Para ele, essa prática “foi importada da América do Norte e, na linguagem de beira de cais, é cagüetagem[1]. Delata-se por vários motivos: satisfação econômica, castigo menor, sadismo, ódio, culpas, vingança” Na ativa desde 1960, Fernandes foi professor de Processo Penal e conselheiro federal da Ordem dos Advogados do Brasil. Ele deu um depoimento ao DCM em que explica por quê, em sua opinião, o objetivo final de Moro é Lula: O Moro não é original na posição em que se põe. Na Antiguidade, você teve centenas de arautos desse estilo, que se colocam como heróis no conflito entre o bem e o mal. É o chefe da tribo, o pajé, o rei viking que conduz os guerreiros pelos mares revoltos. Nem sempre acaba bem. O bispo Savonarola, em Florença, fazia essa pregação da imaculabilidade. Quando perdeu o poder, foi-lhe perguntado se queria morrer pela espada ou pela forca. Morreu enforcado e depois seu corpo foi incinerado numa fogueira em praça pública. Sergio Moro é necessário neste momento. Não digo que isso é bom ou mal. Ele é um personagem da hora. Aí temos outro elemento: o povo. O povo, ou parte dele, quer sangue, quer vítimas, como as harpias na Revolução Francesa. Moro acha que tem de oferecer o sangue que esse povo quer. A diferença dos tempos antigos é que, hoje, o negócio é mais sofisticado. A Lava Jato, por exemplo, faz algo inominável: algema as pessoas com as mãos para trás. Qual a finalidade disso? Para que elas não possam cobrir o rosto, o sinal mais instintivo da vergonha. Trata-se apenas de filhadaputice. O objetivo final dele é prender Lula. É o seu trofeu de caça. O juiz se tornou um ícone da política judiciária do Brasil. Foi transformado num símbolo da impecabilidade. Tem, ou acha que tem, esse papel a cumprir. Ele vai medir os riscos da prisão, obviamente. Precisa das provas adequadas. Um problema, para Moro, seria a revogação da prisão preventiva por falhas processuais. Se chegar a prender Lula, mesmo com estrutura probatória adequada, há a possibilidade de uma reação enorme da sociedade civil. Em sua motivação psicológica de vencer o mal, ou o que acredita ser o mal, ele vai levar tudo isso em consideração. Moro é um obsessivo compulsivo e Lula é o alvo. E qualquer coisa é possível em se tratando de um personagem como este. Sobre o AutorDiretor-adjunto do Diário do Centro do Mundo. Jornalista e músico. Foi fundador e diretor de redação da Revista Alfa; editor da Veja São Paulo; diretor de redação da Viagem e Turismo e do Guia Quatro Rodas. Artigo publicado originalmente em http://www.diariodocentrodomundo.com.br/a-prisao-de-lula-e-o-trofeu-que-moro-deseja-diz-decano-dos-criminalistas-de-sp-por-kiko-nogueira/
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