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Gaza: uma pausa antes da tempestade. Por Pepe Escobar
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Dando o que Falar
Sáb, 25 de Novembro de 2023 11:43

Pepe_EscobarEnquanto o mundo clama "genocídio israelense", a Casa Branca de Biden se desmancha em elogios à próxima trégua em Gaza que ela ajudou a negociar, como se realmente estivesse "às beiras" de sua "maior vitória diplomática".

Por trás das narrativas autocongratulatórias, o governo dos Estados Unidos não está nem remotamente "preocupado com a jogada final de Netanyahu", que ele aliás endossa – genocídio inclusive – tal como acordado na Casa Branca menos de três semanas antes da Tempestade Al-Aqsa, em uma reunião realizada em 20 de setembro entre o Presidente de Israel Benjamin Netanyahu e os operadores de Joe "A Múmia" Biden.

A "trégua" negociada pelos Estados Unidos e por Qatar, que supostamente entrará em vigor nesta semana, não é um cessar-fogo. É uma jogada de relações públicas destinada a amenizar o genocídio israelense e levantar seu moral ao garantir a libertação de algumas dezenas de prisioneiros. Além disso, a história mostra que Israel nunca respeitou cessar-fogo algum.

Como seria previsível, o que realmente preocupa o governo dos Estados Unidos são as "consequências não-intencionais" da trégua, que "permitirão que os jornalistas tenham maior acesso a Gaza, tendo a oportunidade de mostrar de forma mais patente a devastação ali ocorrida, e voltar a opinião pública contra Israel".

Os verdadeiros jornalistas vêm trabalhando com Gaza 24/7 desde 7 de outubro – dezenas deles foram mortos pela máquina militar israelense naquilo que os Repórteres Sem Fronteiras chamam de "um dos massacres mais mortíferos nos últimos cem anos".

Esses jornalistas não vêm medindo esforços para "trazer à luz toda a devastação", eufemismo usado para o genocídio que atualmente assistimos, mostrado nos detalhes mais cruentos para o mundo inteiro ver".

Até mesmo a própria Agência de Assistência e Obras das Nações Unidas para a Palestina (UNRWA), incansavelmente atacada por Israel, revelou, em termos algo brandos - que esse foi "o maior deslocamento desde 1948", "um êxodo da população palestina, que teve sua geração mais jovem "forçada a passar pelos traumas de seus ancestrais ou genitores".

Quanto à opinião pública de todo o Sul Global/Maioria Global, ela há muito se "voltou" contra o extremismo sionista. Mas agora, a Minoria Global – as populações do Ocidente Coletivo – estão assistindo estarrecidas, horrorizadas e amarguradas com o fato de que, em apenas seis semanas, as mídias sociais mostraram a elas o que a mídia convencional escondeu durante décadas. Não haverá volta, agora que a ficha caiu.

Um estado ex-apartheid aponta o caminho

O governo da África do Sul preparou o caminho, em termos globais, para a reação correta ao genocídio atualmente em curso: o parlamento votou a favor do fechamento da embaixada israelense, da expulsão do embaixador de Israel e do rompimento dos laços diplomáticos com Tel Aviv. Os sul-africanos conhecem bem o apartheid.

Seria bom que eles, como outros críticos de Israel, tivessem muito cuidado ao seguir adiante. Pode-se esperar qualquer coisa: um surto de falsas bandeiras "terra terra terra", calamidades climáticas artificialmente induzidas, falsas acusações de "atentados aos direitos humanos", colapso da moeda nacional, o rand, casos de lawfare, ataques apopléticos atlanticistas de tipos variados, sabotagem da infraestrutura energética. E mais ainda.

Diversos países deveriam, a essas alturas, ter invocado a Convenção do Genocídio – uma vez que políticos e autoridades de Israel vêm se gabando publicamente de arrasar Gaza e de sitiar, matar de fome, assassinar e transferir em massa sua população palestina. Nenhum ator geopolítico ousou tanto até agora.

A África do Sul, de seu lado, teve a coragem de fazer o que poucos estados muçulmanos e árabes ousaram. No pé em que as coisas andam, quando se trata de boa parte do mundo árabe – particularmente os estados clientes dos Estados Unidos – eles ainda estão em território Pântano Retórico.

A "trégua" negociada pelo Qatar veio na hora exata para Washington. Ela tirou dos holofotes a delegação de chanceleres árabe-islâmicos que faz uma tour de capitais escolhidas para promover seu plano para um cessar-fogo total em Gaza – além das negociações para a criação de um estado palestino independente.

Esse Grupo de Contato de Gaza – Indonésia, Nigéria e Palestina - fez sua primeira escala em Pequim, se encontrando com o Chanceler chinês Wang Yi, e em seguida em Moscou, reunindo-se com o Chanceler russo Sergei Lavrov. Esse, claramente, foi um exemplo do BRICS 11 já em ação – mesmo antes de eles começarem suas operações em 1º de janeiro de 2024, sob a presidência russa.

A reunião com Lavrov foi realizada simultaneamente a uma sessão extraordinária virtual dos BRICS sobre a Palestina, convocada pela atual presidência sul-africana. O Presidente do Irã, Ebrahim Raisi, cujo país lidera o Eixo da Resistência da região e se recusa a manter qualquer tipo de relações com Israel, apoiou as iniciativas e conclamou os estados-membros dos BRICS a usar todos os instrumentos políticos e econômicos disponíveis para pressionar Tel Aviv.

Foi também importante ouvir do próprio Presidente Xi Jinping que "não poderá haver segurança no Oriente Médio sem uma solução justa para a questão da Palestina".

Xi, mais uma vez, ressaltou a necessidade de uma "solução de dois estados", da "restauração dos direitos nacionais legítimos da palestina" e da "criação de um estado palestino independente".

Nada disso é suficiente no presente estágio – nem essa trégua temporária, nem a promessa de uma negociação futura. O governo dos Estados Unidos, ele próprio enfrentando uma inesperada reação internacional, na melhor das hipóteses, entrou em uma queda de braço com Tel Aviv para encenar uma breve "pausa" no genocídio. O que quer dizer que a carnificina continuará depois de alguns dias.

Se essa trégua fosse um verdadeiro "cessar-fogo", que interromperia todas as hostilidades, e a máquina de guerra de Israel se retirasse por completo da Faixa de Gaza, as opções para o dia seguinte seriam bastante sinistras. O praticante de realpolitik John Mearsheimer já foi direto ao ponto: uma solução negociada para Israel-Palestina é impossível.

Uma olhada rápida no mapa atual é o bastante para mostrar que a solução de dois estados, defendida por todos, da China-Rússia até a maior parte do mundo árabe – está morta. Um grupo de Bantustãos isolados não podem formar um estado.

Vamos passar a mão no gás deles

Comentários ruidosos se fazem ouvir por todo o espectro dizendo que, com o advento cada vez mais próximo do petroyuan, os americanos precisam desesperadamente de energia do Leste do Mediterrâneo comprada e vendida em dólares americanos – incluindo-se aí as vastas reservas situadas na costa de Gaza.

Entra em cena o consultor para assuntos de segurança do governo dos Estados Unidos, enviado a Israel para "discutir" possíveis planos de revitalização econômica para Gaza centrados nos ainda não explorados campos marítimos de gás natural": que eufemismo simpático!

Mas embora o gás de Gaza seja de fato um vetor crucial, Gaza, o território, é um estorvo. O que é realmente importante para Tel Aviv é confiscar todas as reservas palestinas e destiná-las aos futuros clientes preferenciais: a União Europeia.

Entra em cena o Corredor Índia-Oriente Médio (IMEC) – que na verdade é o Corredor União Europeia/Israel/Arábia Saudita/Emirados/Índia – concebido por Washington para ser o veículo perfeito para Israel se tornar uma potência de encruzilhada energética. Ele fantasia uma parceria energética Estados Unidos-Israel operando em dólares americanos – que simultaneamente substituiria a energia russa para a União Europeia e interromperia um possível aumento da exportação da energia iraniana para a Europa.

Voltamos aqui para o principal tabuleiro de xadrez do século XXI: o Hegêmona contra os BRICS.

Pequim, até agora vem mantendo relações sólidas com Tel Aviv, com generosos investimentos no setor de alta-tecnologia e na infraestrutura israelenses. Mas os ataques de Israel a Gaza podem mudar esse quadro: nenhum estado soberano pode tergiversar quando se trata de um real genocídio.

Paralelamente, o que quer que o Hegêmona venha a inventar em seus muitos cenários de guerra híbrida e quente contra os BRICS, a China, com sua multitrilionária Iniciativa Cinturão e Rota (ICR), não irá alterar a trajetória racional e estrategicamente formulada por Pequim.

Esta análise de Eric Li diz tudo o que precisamos para entender o que temos pela frente. Pequim mapeou todos os roteiros tecnológicos relevantes a serem seguidos em sucessivos planos quinquenais até 2035. Nesse quadro, a ICR deve ser vista como uma espécie de ONU geoeconômica sem o G7. Quem está fora da ICR – e isso envolve, em grande medida, os velhos sistemas e elites compradoras - está isolado do Sul Global/Maioria Global.

Então, o que resta dessa "pausa" em Gaza? Na próxima semana, os covardes apoiados pelo Ocidente recomeçarão seu genocídio contra mulheres e crianças, e não irão parar por muito tempo. A Resistência Palestina e os 800 mil civis palestinos ainda no norte de Gaza – agora cercados de todos os lados por tropas israelenses e veículos armados – vêm provando que estão dispostos e são capazes de suportar a carga de lutar contra o opressor israelense não apenas para a Palestina, mas para todos os que tenham consciência, seja onde for.

Apesar desse preço tão terrível a ser pago em sangue, haverá, mais adiante, uma recompensa: a lenta mas segura evisceração do construto imperial no Oeste Asiático.

Nenhuma narrativa da mídia convencional, nenhuma jogada de relações públicas para abrandar o genocídio, nenhuma tentativa de conter "a população mundial se voltando contra Israel" poderá jamais acobertar a série de crimes de guerra perpetrados em Gaza por Israel e seus aliados. Talvez seja isso mesmo que o Doutor – metafisicamente e em outros sentidos – receitou para a humanidade: uma imperativa tragédia global, a ser testemunhada por todos, que nos transformará a todos.

Pepe Escobar é jornalista e correspondente de várias publicações internacionais

Tradução de Patricia Zimbres

Artigo publicado no Brasil 247

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