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Todo tucano é mineiro? Ou todo mineiro é que é tucano? por Eugênio Bucci
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Dando o que Falar
Seg, 17 de Março de 2014 23:00

Eugnio_Bucci2É preciso dar nome às coisas. Dando nome às coisas, não se corre o risco de chamar uma pelo nome da outra. Os nomes certos impedem que coisas erradas se misturem.
Isso não é de hoje, é tão antigo quanto o próprio verbo – o verbo bíblico, se é que você entende. Já no Gênesis, Deus se ocupa de providências semânticas: “Deus chamou à luz ‘dia’ e às trevas ‘noite’”. Foi Ele, Deus, quem deu nome de “terra” ao continente e de “mares” à “massa das águas”. Consta, ainda, que Deus “viu que isso era bom”.

A história continua. Depois de dar existência a milhões de outras entidades materiais, os seres vivos, o Criador delegou à sua mais elaborada criatura, o homem, a incumbência de batizar os animais inferiores. Foi assim que o Deus bíblico “modelou então, do solo, todas as feras selvagens e todas as aves do céu e as conduziu ao homem para ver como ele as chamaria: cada qual deveria levar o nome que o homem lhe desse”.

Até aí, como se sabe, foi tudo muito fácil. Desde sempre, a humanidade se compraz em nomear ratazanas, vermes, abutres, sanguessugas, hienas, vampiros, parasitas e demais bichos de estimação. Nunca fracassou gravemente no exercício dessa honrosa atribuição linguística que lhe foi confiada pelo Senhor. Eis, contudo, que, de uns meses para cá, a operação nomeadura complicou.

Hoje, no Brasil, ainda não chegamos a um acordo satisfatório sobre como dar nome à maracutaia eleitoral (e eleitoreiríssima) que teve lugar em Belo Horizonte, faz alguns anos, por ocasião da campanha de reeleição do governador tucano Eduardo Azeredo. Admitamos que aquilo tenha sido um “mensalão”, como dizem todos os filhos de Deus que falam português. Tudo bem. É mensalão e não se fala mais nisso. Mas que tipo de mensalão é aquele lá?
É necessário especificar. Não vamos confundir essa coisa de Belo Horizonte com aquela outra coisa, o mensalão do PT, bem mais famoso, também conhecido pelas alcunhas de “mensalão petista” ou “mensalão federal”.

Uma das funções das palavras, vamos recapitular, é distinguir uma coisa da outra. Que adjetivo pespegar no mensalão menos famoso, esse que teria dado as caras lá pelas redondezas do Palácio da Liberdade?

Há quem prefira dizer “mensalão mineiro”. Funciona bem, por certo. Mas nem tão bem assim. Ao ouvir no rádio ou na TV um repórter falando em “mensalão mineiro”, o desavisado ouvinte pode entender que existiria nesse vocábulo específico, “mineiro”, uma certa inferência de causalidade. É simples explicar por quê. Sabendo que o outro mensalão, o petista, levou esse nome por ter sido perpetrado por agentes do PT, é possível que o espectador distraído entenda que o “mensalão mineiro” foi um crime perfeitamente análogo, com a única distinção: ter sido praticado por agentes de Minas, ou a serviço de Minas.

Claro, quem entender a coisa assim estará incorrendo numa injustiça atroz. Nem todos os mineiros estão implicados. Minas não tem culpa nenhuma no tribunal. Por isso, o adjetivo “mineiro”, embora funcione para distinguir um mensalão do outro, deixa ruídos no ar. Melhor seria se as palavras “mensalão mineiro” circulassem por aí com uma nota de rodapé: “Entenda-se bem, o adjetivo ‘mineiro’, aqui, tem uma função toponímica, sem nenhuma relação de autoria”.

Há filhos de Deus, igualmente falantes de português, que preferem dizer “mensalão tucano”.  Consideram que o lugar (Minas Gerais) não tem nada a ver com o crime. O lugar é acidental, garantem. Insistem que o termo “tucano” (aqui significando “militante do PSDB”) é mais próprio, já que revela o nexo político do desvio. Para não deixar dúvidas, outros falantes preferem a nomenclatura mais técnica, mais direta: “Mensalão do PSDB”. Pronto. Não é ruim, principalmente quando levamos em conta que já tivemos até o “mensalão do DEM”, que escolheu a cidade de Brasília para se manifestar aos mortais.

Mas então se levanta a elite da elite do tucanato e jura que, de tucano, o mensalão, digamos, mineiro, nunca teve nada. Nada de PSDB. Nada. Olímpica, a nata tucana rifa os réus com carteirinha de filiados ao partido, como se nunca os tivesse visto mais gordos. Mensalão? Que mensalão? Esse mensalão aí não é de ninguém. É nhem-nhem-nhem. Esse mensalão caiu do céu, uai!

Falando em céu, o Tal que escreve certo por linhas tortas não deve estar entendendo direito. Ele que, depois de criar isso e mais aquilo, olhava para o mundo nascente e via que “era bom” talvez coce os cabelos brancos.

Esse negócio de dar nome às coisas não é mais como era no princípio.

Artigo publicado originalmente em http://epoca.globo.com/colunas-e-blogs/eugenio-bucci/noticia/2014/03/btodo-tucano-e-mineiro-bou-todo-mineiro-e-que-e-tucano.html

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