O que a venda da Forbes diz sobre a mídia — a de fora e a do Brasil por Paulo Nogueira |
Dando o que Falar | |||
Sáb, 19 de Julho de 2014 14:26 | |||
O caso Forbes – a venda da revista para um grupo de capital chinês — é um marco sob vários aspectos. O principal deles é o que todos sabemos: a Forbes, uma das marcas mais reluzentes da mídia tradicional, não resistiu à internet. Como tantas outras marcas da Era do Papel, foi diminuindo, diminuindo, diminuindo até virar nada, ou quase nada. Ninguém mais lê revistas. Em seus dias de glória, a Forbes era leitura obrigatória de executivos não apenas dos Estados Unidos, seu berço – mas de todo o mundo. Jornalistas de negócios não podiam também passar sem ela. Como editor da Exame, sempre tinha a Forbes em minha mesa. O melhor diagnóstico veio de Steve Forbes, filho do fundador: “Nosso negócio foi tornado obsoleto pela internet.” Foi Steve que comandou a venda. Houve vários triunfos da esperança, nos últimos anos, para as revistas tradicionais. Os editores acharam, em certo momento, que a cobrança de conteúdo na internet compensaria, ao menos em parte, o dinheiro perdido na publicidade e na circulação. Não deu certo. Mais recentemente, os editores se animaram com a perspectiva de que os tablets seriam a salvação das revistas na era digital. Também não deu certo. Os tablets são usados para o consumo de notícias novas, frescas – e não para a leitura de conteúdo antigo de revistas. Um estudioso de mídia americano usou, ao comentar o caso da Forbes, uma expressão dura e verdadeira: “Não existe bala de prata para a mídia impressa.” Segundo fontes, a empresa foi vendida por 475 milhões de dólares, cerca de 1 bilhão de reais. Mas o mercado duvida que essa cifra seja verdadeira. Há a suspeita de que o número seja bem menor. Por que comprar um negócio que o próprio dono classifica de “obsoleto”? Há, aí, uma questão simbólica. É a China se apropriando de um ícone americano. É interessante colocar o assunto à luz do mercado brasileiro. O quadro é, ao mesmo tempo, igual e diferente. Igual na obsolescência que a internet trouxe às revistas. Diferente nas alternativas colocadas à frente das empresas proprietárias. Imagine que algum grupo chinês, para ampliar sua presença no Brasil, tivesse interesse em comprar uma editora de revistas. Não conseguiria. A reserva de mercado que vigora na mídia impede o controle de acionistas estrangeiros. É uma ironia. Durante décadas, as grandes companhias de beneficiaram da reserva. A competição de fora foi afastada. Mas agora o que era uma vantagem competitiva – na realidade uma mamata, mais um dos tantos privilégios – é um obstáculo. Onde existe, no Brasil, dinheiro suficiente para a compra de uma grande empresa de mídia? A oferta nacional de potenciais compradores é extraordinariamente rarefeita. Isso pode obrigar os donos a carregar seu negócio até que ele se extinga. As companhias brasileiras teriam muito mais chances de fazer negócio se pudessem vender para investidores estrangeiros. Mas não podem. É um fato doído para seus donos, e também uma espécie de justiça poética. Artigo publicado originalmente em http://www.diariodocentrodomundo.com.br/o-que-a-venda-da-forbes-diz-sobre-a-midia-a-de-fora-e-a-do-brasil/
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Última atualização em Sáb, 19 de Julho de 2014 14:33 |
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