FHC, um presidente bom de bico por Luis Nassif |
Dando o que Falar | |||
Ter, 07 de Outubro de 2014 08:59 | |||
Nas redes sociais popularizou-se a figura do troll. São perfis do Twitter, Facebook e comentaristas de sites jornalísticos e blogs que entram para provocar. Ninguém está a salvo deles, de Dilma a Aécio, do PT ao PSDB, todos são vítimas dos trolls do outro lado. Um dos aprendizados da rede é que com troll não se mexe. O único objetivo do troll é provocar a reação contrária. Ele tem compulsão por provocar repulsa, indignação e outros sentimentos menores. Ignorando-o, recolhe-se à sua insignificância. Assim como animais em zoológicos, tem que vir acompanhado de placas tipo “não os provoque”, “não lhes dê amendoim”. As próximas semanas serão o reinado de trolls de todos os lados. O segundo turno exacerbará os ânimos, desenterrará dossiês e baixarias, preconceito e ofensas de modo geral. Haverá uma guerra sem quartel entre “petralhas” e “coxinhas”. A perspectiva de baixarias reforça a responsabilidade daqueles que precisariam ser figuras referenciais, acima das paixões e das baixarias. Por isso, é incompreensível a atitude do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, comportando-se como um troll, ao taxar os eleitores de Dilma de desinformados e moradores dos “grotões”. Tudo isto em um ambiente em que a polarização norte/nordeste-sudeste estimula atitudes bairristas agressivas de lado a lado. Há muito FHC abdicou da postura responsável que se exigiria de um ex-presidente, se é que algum dia já teve. Em alguns momentos extremamente tensos na história recente, quando a crise política parecia engolir as instituições, o impulsivo Fernando Collor, o errático Itamar Franco, pouco antes de morrer, o polêmico José Sarney, nenhum deles abdicou da responsabilidade e da postura que se exige de ex-presidentes, procurando apaziguar ânimos e apontar rumos. Menos Fernando Henrique Cardoso. Coube a ele papel central na cooptação da ultradireita que emporcalhou o PSDB, na agressividade sem limites personificada na candidatura José Serra. Em nenhum momento age às claras. Mas sempre estimula, por sinais, a face mais tenebrosa de seus aliados. E em nome de quê? Da vaidade insuperável de quem nunca conduziu, mas sempre foi conduzido pelos fatos e por uma visão oportunista da vida. Quando teve espaço na esquerda, esquerdista foi, assim como seu alter ego José Serra apresentava-se como desenvolvimentista. Assumiu o governo por acidente – e pela impulsividade de Itamar – e passou pelo governo em brancas nuvens. Plano Real, reformas, privatização, criação de uma dívida pública monumental, tudo isso passou ao largo dele. De esquerdista tornou-se um neoliberal, não um pensador à altura do liberalismo, mas um mero repetidor de mantras e bordões, sem ao menos entender as transformações de seu próprio governo. É ilusória sua pretensão de que Aécio subiu nas pesquisas por defender o seu legado. A votação em Aécio é claramente uma manifestação antipetista e anti-Dilma, jamais pró-FHC. Sociólogo, a convivência de FHC com alguns dos mais ilustres intelectuais do mundo jamais ajudou-o a perceber o novo, a entender o fenômeno das grandes inclusões sociais nos países emergentes ou as mudanças políticas trazidas pelas redes sociais. A medida de sua superficialidade pode ser dada por seus comentários a uma biografia de Franklin Delano Roosevelt. Nela, falava-se da enorme visão prospectiva de Roosevelt e de sua malícia política – de iludir adversários e aliados falando A e pensando B. Imediatamente FHC se disse à altura de Roosevelt porque ele também sabia levar adversários e aliados no bico. Só faltou fazer o seu New Deal para se equiparar a Roosevelt.
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