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Integrantes da Câmara de Patrimônio dialogam com a comunidade do Terreiro Alaketu
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Qui, 05 de Janeiro de 2017 14:23

reuniaoALAKETUIntegrantes da Câmara de Patrimônio do Conselho Estadual de Cultura, após visitarem o Terreiro Ilê Asé Maroialaji – Alaketu, se colocaram à disposição para colaborar no processo de diálogo que precisa ser fortalecido entre lideranças do templo religioso, órgãos públicos e organizações da sociedade civil. A casa de axé, na Rua Luís Anselmo, bairro Matatu de Brotas, em Salvador, tem sido alvo de ameaças desde que uma árvore gameleira centenária, localizada em seu terreno, caiu no dia 02 de dezembro. O acidente culminou com a morte de uma idosa e nove casas foram atingidas.

 

A gameleira era considerada sagrada por ser um “pé” de Irôko, em referência ao orixá que representa o tempo e todas as árvores sagradas. Doze dias depois da sua queda, um incêndio atingiu o quintal do terreiro. Há suspeitas de que tenha sido provocado por alguns vizinhos revoltados após a tragédia. O vice-presidente do Conselho Estadual de Cultura, Emílio Tapioca, e a presidenta da Câmara de Patrimônio Histórico, Artístico, Arqueológico e Natural da Bahia, Ana Vaneska, estiveram no terreiro no dia 22 de dezembro.

Além de prestar solidariedade por conta do desabamento e do incêndio, ambos foram ouvir os integrantes da comunidade depois de serem informados a respeito das ameaças destinadas ao local que, desde 2004, é tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). “Lidamos com ameaças de alguns membros da vizinhança no intuito de invadir, depredar e atear fogo no espaço sagrado momentos após a queda da árvore”, diz a Yákekerê da casa, Jocenilda Barbosa, que recebeu os membros da Câmara de Patrimônio.

Durante a visita, estiveram presentes também a Yá Atinsá Suzane Barbosa, o Babá Joca e o filho de santo Lula Oliveira, que foi representante do Ministério da Cultura na Bahia e Sergipe entre 2012 e 2014. Um dos objetivos do encontro foi tomar conhecimento dos problemas gerados após o acidente com o “pé” de Irôko que, por sua vez, presume-se ter sido decorrente da negligência do poder público em relação à poda da árvore.

“A preservação do terreiro e das suas práticas religiosas é algo crucial. Percebemos que há alguns anos a comunidade do Alaketu tem buscado apoio do poder público para serviços essenciais, como a poda da árvore que caiu, mas nem sempre as demandas são atendidas com a brevidade necessária. Por isso, nosso foco será a fortalecimento do diálogo com o poder público e organizações da sociedade civil. Preservar o Alaketu é manter viva a cultura ligada à religiosidade de matriz africana”, comentou a conselheira Ana Vaneska.

RELATOS – De acordo com a Yákekerê da casa, Jocenilda Barbosa, desde a queda da árvore houve acirramento dos ânimos de alguns vizinhos em relação ao terreiro, cenário que piorou após a confirmação do falecimento de Vanda Ribeiro, 64 anos, que estava em um dos imóveis atingidos no acidente. Segundo Jocenilda, há uma tentativa de culpabilizar o terreiro em relação ao acidente, porém, o necessário é que haja uma análise técnica que localize as razões do desabamento da gameleira, além de ser oferecido o devido suporte por parte do Estado à comunidade religiosa e às famílias atingidas no local.

Vizinhos e os próprios membros do Alaketu afirmam que, desde 2013, cobravam a órgãos da Prefeitura Municipal de Salvador uma avaliação de especialistas em relação a gameleira, sendo solicitada posteriormente, inclusive, a sua extração. Segundo a Yá Atinsá Suzane Barbosa, o pedido nunca foi atendido. “Fomos informados que, por conta da localização do terreiro, não haveria condições de chegar com um guindaste para iniciar a extração da árvore”, afirmou. Até 05 de janeiro, 34 dias após a queda da árvore, parte do tronco com seis metros de diâmetro ainda permanecia no local. Segundo a comunidade, já foi solicitado ao Iphan a retirada da parte restante do “pé” de Irôko.

Membros da família de axé informam que, por meio da Sociedade São Jerônimo, foi prestado solidariedade e auxílio funeral à família em luto pela morte da idosa. Ainda assim, há um pequeno grupo de pessoas que tem insuflado a comunidade contra o templo religioso. A Yákekerê Jocenilda Barbosa disse ter buscado apoio da Defensoria Pública do Estado da Bahia. Os membros da Câmara sugeriram ainda que a comunidade do terreiro acione o Ministério Público e se colocaram à disposição para tentar agendar, caso seja necessário, reuniões com gestores das secretarias municipal e estadual de Cultura. Após a visita da Câmara de Patrimônio, estiveram no local integrantes do Conselho Municipal de Cultura, do Conselho Regional de Psicologia da Bahia e da Fundação Gregório de Matos.

“O nosso papel enquanto conselheiros de cultura é buscar o diálogo entre a sociedade civil e o poder público. O caminho institucional dentro da legalidade é sempre o mais adequado para resolver conflitos, em especial aqueles ligados às práticas culturais que devem ser preservadas”, afirmou o vice-presidente Emílio Tapioca.

MOBILIZAÇÃO – Após ouvir os relatos, a presidenta da Câmara de Patrimônio, Ana Vaneska, sinalizou a importância de a sociedade civil e o Estado direcionarem seus esforços à desconstrução do preconceito enraizado na cultura brasileira em relação as religões de matriz africana, cenário que resulta na crescente e nociva onda de intolerância religiosa. Uma preocupação que deve ser constante, segundo a conselheira, é o fato de grupos religiosos tentarem implantar o fundamentalismo religioso a partir do extermínio de outras matrizes religiosas.

“O terreiro é a primeira vítima por conta da morosidade ou mesmo da negligência do Estado. Outros terreiros já foram acometidos com o mesmo tipo de problema. É preciso pautar a sociedade em relação aos casos que mostram como a intolerância religiosa é uma constante em nossa sociedade”, finalizou a conselheira, após lembrar que, na última quarta-feira, 04 de janeiro, o Conselho Estadual de Cultura emitiu uma moção de repúdio ao decreto 01/17, publicado no Diário Oficial do Município de Guanambi, no território Sertão Produtivo. Assinado pelo prefeito da cidade, Jairo Silveira Magalhães, o decreto estipula a “entrega da chave da cidade ao senhor Jesus Cristo” e cancela, “em nome de Jesus, todos os pactos realizados com qualquer outro Deus ou entidades espirituais”.

Para o vice-presidente Emílio Tapioca, os debates servem para reforçar a importância de o Estado estar mais atento às demandas dos povos de terreiro, sendo necessário um trabalho de combate e prevenção à intolerância religiosa. “Ações de violência direcionadas a qualquer templo religioso precisam ser punidas. Porém, mais importante do que a punição é o trabalho de conscientização e a constante manutenção desse assunto nas pautas de discussões”, finalizou.


 

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Última atualização em Sáb, 28 de Janeiro de 2017 18:10
 

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