Diógenes Moura lança Vazão 10.8 - A Última Gota de Morfina |
Sex, 18 de Junho de 2021 00:31 |
Em seu primeiro romance, Diógenes Moura evoca fragmentos da vida de sua única irmã, vítima de um câncer fulminante, seus familiares e das cidades em que morou, em tons impressionistas, extraordinários e memorialísticos. “Em Vazão 10.8 – A Última Gota de Morfina o maior desafio não foi a escrita, mas sim viver e enfrentar o que seria a ausência definitiva da minha irmã. Até hoje não sei explicar direito o que vi e senti naqueles dias de despedida. Prefiro pensar que escrevi um livro como se escrevia na Idade Média, onde romance e a poesia eram a mesma coisa”, diz Diógenes Moura. “Semana passada senti dores nas costas. Fiz uma tomografia, estou com um câncer no pâncreas!”. Foi assim, por meio de uma ligação de sua irmã, que o escritor Diógenes Moura tomou conhecimento, em 30 de junho de 2018, logo cedo, da doença que seis meses depois causaria, em 01 de janeiro de 2019, dia do seu aniversário, a morte da sua irmã. Essa e outras histórias familiares povoam as páginas de Vazão 10.8 – A Última Gota de Morfina (Vento Leste Editora, 104 páginas), romance autoficcional do escritor pernambucano que vive em São Paulo desde 1989, e que nunca deixou de perscrutar sobre o abismo, a existência e o abandono. Desde que estreou na literatura com o livro Mingau de Almas ou o Traço Fixo da Loucura, em 1982, uma mistura de contos, crônicas e poesia, Diógenes Moura não parou mais de escrever sobre a geografia humana das cidades onde morou (Recife, Salvador e São Paulo). No prefácio do seu primeiro livro, o crítico, teórico e ator Alberto Guzik (São Paulo, 1944 – 2010), o classifica como um “mapeamento da própria alma, do ser. O autor transfere as dúvidas, interrogações, angústias e felicidade para o papel. Em estado bruto, quase. O polimento é mínimo. E a energia vem daí, acrescida da sinceridade do escritor”. Vazão 10.8 – A Última Gota de Morfina é um romance memorial de sua única irmã, de sua família, constituída de pai, mãe, cinco irmãos, incluindo o autor, tios, tias, uma irmã de criação, dos três filhos da personagem principal, do pai dos seus filhos, além dos animais de estimação, como cachorros e uma galinha que a irmã tinha quando era criança e morava num arrabalde de Tejipió em Recife. Numa tessitura de vestígios da vida da personagem principal – desde sua partida junto com a família de Recife para Salvador, quando tinha onze anos, passando pelo dia em que conheceu seu primeiro companheiro, pai dos seus três filhos, sua volta à Recife, até a descoberta do câncer de pâncreas que a mataria seis meses depois –, tudo é urdido com tonalidades impressionistas em que os contornos das memórias rememoradas ficam embaralhados entre tempo e espaço. Tudo transborda numa prosa poética e extraordinária em que a realidade cede à invenção, ao onírico e fabular, mesmo que se apresente também com seus dramas vividos. Apesar de um câncer terminal, a vida da única irmã do autor é contada/inventada com sutilezas, dramas e abundância de acontecimentos numa celebração à existência e às memórias familiares. “Não me interessava escrever uma biografia ou um perfil porque seria pouco, muito pouco para tudo o que ela viveu e tudo o que eu presenciei. Não seria literatura, seria jornalismo. Também não me interessava transformar esse drama na escrita de uma grande tragédia familiar. Novamente seria muito fácil, quase pífio. Me interessa a literatura de segredos, de descobertas, de lentidão ao construir uma frase, da agonia da espera para que o próximo verso chegue aos poucos, lentamente”, revela Diógenes Moura. Uma literatura que não obedece a demarcações de gênero, já que aglutina no mesmo livro da poesia ao conto, passando pela crônica e pelo ensaio. Seus livros (nove ao todo), incluindo o primeiro romance, logram no campo da experimentação, da coragem e originalidade na abordagem dos temas, na busca por uma dicção própria, pelos traços de narrativas concisas, sem apego às descrições realistas tão em voga na literatura brasileira contemporânea. Trata-se de uma literatura indagadora, sem esperar nenhuma resposta, sobre a condição humana. “Já que nada tem mesmo explicação, sempre assino nos papéis como este e declaro nessa escritura queimada, rasgada, molhada, comida, mas nunca apagada”, escreveu o autor em Mingau de Almas ou o Traço Fixo da Loucura. Assim como a obra do diretor sueco Ingmar Bergman, o cineasta do instante, a literatura de Diógenes Moura é uma ode ao instante ou aos instantes, como fica claro em Vazão 10.8 – A Última Gota de Morfina. Apostando em um modelo que conecta mais de uma linguagem ao apresentar o romance ao público, a editora lançará também o filme de média-metragem, homônimo, dirigido por Beto Brant. O cineasta mergulha na obra, entre as palavras, as memórias e os desejos que fizeram da vida da personagem principal um ato de coragem e libertação. Vazão 10.8 – A Última Gota de Morfina Diógenes Moura PRÉ-LANÇAMENTO (ONLINE) Dia 24 de junho, quinta-feira, às 19H
Conversa do autor com o crítico e ensaísta Manuel da Costa Pinto | PLATAFORMA ZOOM Ficha Técnica Editora: Mônica Schalka Coordenação editorial e produção gráfica: Heloisa Vasconcellos Capa, projeto gráfico e diagramação: Ciro Girard Impressão: Bartira 104 páginas Preço: R$40,00 Vendas pelo site: ventolestelivraria.com Os 50 primeiros exemplares vendidos ganham convite para a sessão de pré-estreia do curta-metragem feito por Beto Brandt sobre o livro (data ainda a ser definida). SOBRE O AUTOR Diógenes Moura é escritor, curador de fotografia, roteirista e editor independente. Nasceu na Rua do Lima, em Recife, Pernambuco. Morou durante 17 anos em Salvador, na Bahia. Desde 1989, vive em São Paulo, no bairro dos Campos Elíseos. Vazão 10.8 – A Última Gota de Morfina (Romance, 104 páginas, Vento Leste Editora), começou a ser escrito de julho de 2018 a janeiro de 2020, durante as constantes viagens que autor realizou entre as cidades de Salvador e São Paulo para ficar ao lado da irmã. Premiado no Brasil e exterior, com O Livro dos Monólogos - Recuperação para Ouvir Objetos (Contos/Crônicas/Ensaios, 200 páginas, Vento Leste Editora) foi semifinalista do Prêmio Oceanos 2019. Em 2010, com Ficção Interrompida [Uma Caixa de Curtas] (Contos/Crônicas, 112 páginas, Ateliê Editorial) recebeu o Prêmio APCA (Associação Paulista dos Críticos de Artes) de melhor livro de contos/crônicas. Em 2011, foi finalista do Prêmio Jabuti, na mesma categoria. Em dezembro de 2020, publicou O Antiacarajé Atômico – Dias Pandêmicos (Contos/Crônicas, 100 páginas, Selo Exu de Dentro, Edição do Autor). Livro escrito entre março e agosto de 2020, durante os primeiros meses da pandemia. Retrata a vida cotidiana nos Campos Elíseos, bairro paulistano onde o escritor vive. LEIA, A SEGUIR, TRECHO DE VAZÃO 10.8 – A ÚLTIMA GOTA DE MORFINA
“Finalmente M. estava livre. Seu corpo ardeu soberano. Os olhos acenderam. Seus dias seriam outros sem o corpo, as mãos e os olhos de A. lambuzando as suas entranhas. M. seria apenas uma, sozinha, ela mesma com suas veias azuladas, seus batimentos cardíacos fora de ordem, sua alegria ao mundo mesquinho dos maridos, sem os anjos barrocos olhando para sua face com os olhos restaurados mais de mil vezes, sem o sobrenome do outro que ela havia conhecido na porta do colégio, sem fingir que gozava para terminar a agonia solene do sexo mal dormido.”
LIVROS DO AUTOR 1 - O Antiacarajé Atômico – Dias Pandêmicos. Selo Exu de Dentro, Edição do Autor, 2020. Gênero: Contos/Crônicas 2 - O Livro dos Monólogos (Recuperação Para Ouvir Objetos). Vento Leste Editora. 2018. Finalista do Prêmio Oceanos de 2019. Gênero: Contos/Crônicas/Ensaios 3 - Fulana Despedaçou o Verbo. Terra Virgem Edições. 2014. Gênero: Contos/Crônicas 4 - Ficção Interrompida [Uma Caixa de Curtas]. Ateliê Editorial. 2010. Eleito Melhor Livro de Contos/Crônicas da Associação Paulista de Críticos de Artes (APCA) de 2010. Finalista do Prêmio Jabuti em 2011. Gênero: Contos/Crônicas 5 - Drão de Roma [Dezembro Caiu]. Fundação Casa de Jorge Amado (Casa de Palavra). 2006. Gênero: Poesia 6 - Elásticos Chineses – Poemas Físicos. Fundação Casa de Jorge Amado. Casa de Palavras. 1998. Gênero: Poesia 7 - Tire a Cadeira da Chuva. Edição Espaço Blef. 1984. Gênero: Roteiro/Contos/Crônicas 8 - Mingau de Almas ou o Traço Fixo da Loucura. Fundação Cultural do Estado da Bahia (Coleção dos Novos, volume 14). 1982. Gênero: Contos/Crônicas/Poesia |
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