Espetáculo “O Princípio de Arquimedes” reflete sobre o impacto das fake news na sociedade |
Qua, 28 de Setembro de 2022 00:07 |
O que acontece com uma sociedade quando os julgamentos são baseados em verdades sem comprovação? Essa é a reflexão proposta pelo espetáculo “O princípio de Arquimedes”, peça escrita pelo dramaturgo catalão Josep María Miró, que ganha sua primeira versão baiana como parte da programação do projeto “Primavera no Cervantes” e das celebrações dos 20 anos da companhia de teatro ATeliê VoadOR. Com estreia marcada para o dia 06 de outubro, na Sala do Coro do Teatro Castro Alves, o espetáculo fica em cartaz até dia 30/10, de quinta a domingo, sempre às 20h (somente na estreia a sessão acontece às 19h). Os ingressos custam R$40 (inteira) e R$20 (meia) e podem ser adquiridos no (https://bileto.sympla.com.br/event/76839 “O princípio de Arquimedes” é considerada uma das peças teatrais mais importantes, não só da trajetória do autor, mas de todo o cenário espanhol contemporâneo. Em suas obras, Miró aborda as contradições éticas e morais do mundo e a relatividade dos diversos pontos de vista em julgar fatos polêmicos. A peça foi vencedora do XXXVI Prêmio Born de Teatro (Espanha) e montada em diversos países, como Argentina, Brasil, México, Reino Unido, França, Itália, Estados Unidos, Chipre, Grécia, Alemanha, Rússia, Croácia, Uruguai e Porto Rico. Encenado pelo diretor artístico do grupo, Djalma Thürler, a história se desenvolve a partir de uma acusação de assédio em um clube de natação infantil, fato que ganha diferentes proporções e desdobramentos morais e sociais envolvendo os professores Heitor, interpretado Duda Woyda, e Rubens, personagem de Rodrigo Lelis, que faz seu primeiro espetáculo após viver Caetano Veloso no longa “Meu Nome É Gal”. O elenco ainda conta com Mariana Moreno e Jarbas Oliver. No vácuo da ambiguidade, uma onda de medo e preconceitos leva a peça a um final surpreendente, instigando o público a fazer seu próprio julgamento e a questionar a pós-verdade, característica inconteste da sociedade contemporânea. O espetáculo é também fruto das conexões e diálogos com países iberoamericanos de língua espanhola, hoje, uma das principais diretrizes da Companhia. A história é uma analogia feita pelo dramaturgo para contextualizar uma questão que tem a ver com causa/efeito. Há uma situação que se apresenta, um caso de aparente assédio e abuso infantil, mas que por diferentes pontos de vista, lança igualmente diferentes reflexões sobre a cena e como determinados gestos aparentemente inofensivos podem ganhar uma dimensão desproporcional, de maneira que é o espectador, em última instância quem tem a difícil tarefa de concluir. “Apesar da peça girar em torno de um assunto polêmico, não há nenhuma comprovação de que o assédio aconteceu, tudo é sobre uma suposição e a maneira como essa acusação destrói a vida de uma pessoa. Muito mais que o assédio, esse espetáculo faz paralelo com o fenômeno das fake news que vivemos nos últimos anos, dos fatos sem provas que destroem reputações e influenciam decisões de extrema importância no Brasil e no mundo”, explica o diretor. Thürler também revela que o espetáculo discute como as pós-verdades são ferramentas que revelam o tipo de sociedade que estamos construindo. “Estamos tratando de uma sociedade na qual uma mera possibilidade acaba e limita a carreira de um profissional. De uma sociedade que condena o toque, o afeto. O que queremos fazer da gente, dos nossos jovens e crianças através dessa lógica?”, questiona. Assim como os demais trabalhos do ATeliê VoadOR, “O princípio de Arquimedes” preza pelo trabalho do ator por inteiro. Com cenário minimalista, o espetáculo se desenvolve totalmente a partir do jogo entre os atores que interagem com o espaço transformando-o em outros lugares e transportando o público para a atmosfera da história que está sendo contada, gerando assim diversas possibilidades e nuances para as cenas apresentadas. Essas características marcam o trabalho da companhia que há 20 anos atua com teatro de grupo utilizando técnica e política como ferramentas de construção de uma cena contemporânea de forte posicionamento estético-político. “No momento em que pisei na sala de ensaio me dei conta do quanto sentia falta da repetição e do desafio que é fazer teatro. Tenho sido confrontado com minhas qualidades e defeitos enquanto ator nesse processo e me redescobrindo, assim como me sinto confrontado também com as questões da masculinidade que envolvem a construção do meu personagem, mas que também sempre me desafiaram na vida de forma geral”, conta Rodrigo Lelis, ator que trabalha pela primeira vez com o ATeliê VoadOR e retorna ao teatro após dois anos fazendo somente trabalhos audiovisuais. Já para Duda Woyda, que atua na companhia desde a criação, construir um personagem segue sendo um processo caótico, desafiador, mas também um momento intenso de descoberta, criação e imaginação. “Eu tenho trabalhado em não personagens, em não representação, mas sim em apresentação e performatividade. Não é um processo fácil, porque é necessário pensar, construir e imaginar quem é esse personagem, quem ele foi, o que ele faz, como ele vive. Apesar de já conhecer o texto, a cada fala, a cada mudança de cena e interação com os outros personagens, eu descubro e crio coisas novas a respeito dele”, explica Woyda. Após a estreia do espetáculo, no dia 06/10, às 21h na Sala do Coro do TCA, acontece um bate papo com participação do autor Josep María Miró e do diretor Djalma Thürler. Miró também participa de mais duas ações no Instituto Cervantes. Dia 07/10, às 17h, apresenta a conferência “Escrever teatro – uma questão política”, e no dia 08/10, também a partir das 17h, lança seu livro de peças que contém os textos “O corpo mais bonito jamais visto neste lugar” (Prêmio Born 2020), “Nerium Park” (montada no Brasil sob direção de Rodrigo Portela), “O princípio de Arquimedes” (com montagens no Brasil e adaptação para o cinema) e “Tempo Selvagem”. Os quatro trabalhos contam com tradução de Daniel Dias da Silva, sendo três inéditos em livro no Brasil e uma nova tradução para “O princípio de Arquimedes”. O livro também traz textos complementares de Josep, Daniel Dias, do professor Djalma Thürler e da filósofa espanhola Mariana Garcés. FICHA TÉCNICA – ESPETÁCULO O PRINCÍPIO DE ARQUIMEDES Autor: Josep Maria Miró Direção: Djalma Thürler Elenco: Duda Woyda, Jarbas Oliver, Mariana Moreno e Rodrigo Lelis Cenário: José Dias Figurino: Luís Santana Iluminação: Marcus Lobo Trilha Sonora: Ramon Gonçalves Diretor Assistente: Duda Woyda Assistente de Direção: Giuliano Zelada Cenotecnia e Assistente e cenografia: Gei Correia Programação Visual e Assessoria de Comunicação: Coletivo Arroyo Produção: ATeliê voadOR Teatro O Primavera No Cervantes Seguindo as pistas da estação, o Instituto Cervantes e a companhia de teatro baiana ATeliê VoadOR, promovem de 05 a 08 de outubro o “Primavera No Cervantes”, projeto composto por ações de criação, educação, fruição e difusão da cultura espanhola no Brasil e que traz como eixo temático “A filosofia e o teatro espanhóis contemporâneos". A programação conta com estreia do espetáculo “O Princípio de Arquimedes”, além de lançamento de livro, conferências e bate-papos, tudo com a participação presencial de importantes nomes nacionais e internacionais. O Primavera no Cervantes foi criado com o intuito de preservar, proteger e dinamizar a região onde o Instituto Cervantes está localizado em Salvador, desempenhando sua importante missão de contribuir para a difusão da cultura dos países de fala espanhola estimulando atividades culturais
Nesta edição, o projeto irá apresentar ao público brasileiro duas figuras centrais do pensamento crítico espanhol contemporâneo, ambos nascidos nos anos 70. São eles: o dramaturgo catão Josep Maria Miró (1977), e a escritora e militante feminista Itziar Ziga (1974) responsável pela abertura da programação no dia 05/10 com a conferência “Por el lado más vibrante, sexy y queer de la vida” que acontece às 20h, na sede do Instituto Cervantes. Itziar é um dos nomes mais provocadores da cena espanhola atual, sua pesquisa abarca os fenômenos de resistência ao hétero-patriarcado e à normalização das identidades sexuais em códigos de masculinidade e feminilidade. A escritora incorpora em seu ideal de feminismo os arquétipos da mulher “cachorra”, “piranha”, além de figuras como as drag queens e kings, entre outras feminilidades exaltadas e subversivas.
Confira a programação completa:
05/10 (quarta) | CONFERÊNCIA Com Itziar Ziga | Por el lado más vibrante, sexy y queer de la vida Horário: 20h Local: Instituto Cervantes – BA 06/10 (quinta) | Estreia o Espetáculo “O princípio de Arquimedes” Horário: 19h Local: Sala do Coro do TCA Seguida de bate papo com Josep María Miró e Djalma Thürler Horário: 21:00h 07/10 (sexta) | CONFERÊNCIA Com Josep María Miró | Escrever teatro – uma questão política Local: Instituto Cervantes – BA Horário: 17h 08/10 (sábado) | A tradução do teatro de Josep Maria Miró Com Daniel Dias da Silva Lançamento do livro de peças de Josep Maria Miró com noite de autógrafos Horário: 17h Local: Instituto Cervantes – BA
O Instituto Cervantes é uma instituição criada pela Espanha em 1991 para promover, ensinar espanhol e divulgar a cultura da Espanha e dos países hispano falantes. A sede central da instituição se encontra em Madri e em Alcalá de Henares (Madri), cidade de nascimento do escritor Miguel de Cervantes. O Instituto Cervantes está presente nos cinco continentes com mais de 70 centros, e o Instituto Cervantes de Salvador forma parte do importante aposta pelo ensino do espanhol no Brasil, que na atualidade tem o maior número de centros da rede num país. O trabalho do Instituto Cervantes está dirigido por representantes do mundo acadêmico, cultural e literário do âmbito espanhol e hispano-americano. Em Salvador colabora com museus, galerias, teatros, editorias e outras instituições culturais baianas, assim como espanholas e latino-americanas. Mais informações em: https://salvador.cervantes.es/br/ Sobre o ATeliê VoadOR: A ATeliê voadOR TEATRO, companhia estável e de repertório de Salvador (BA/BRA) tem atuado há 20 anos no segmento do Teatro de Grupo, um movimento fundamental para o teatro brasileiro contemporâneo. Sua pesquisa se debruça, hoje, sobre como as formas de poder são estruturadas, como a cultura ocidental veio construindo ao longo de sua história alguns dispositivos de verdade e, como esses dispositivos precisam, com urgência serem compreendidos e enfrentados. Ao longo dessa história, suas contribuições para as Artes Cênicas foram o conceito de uma “cena anfíbia”, onde técnica e política são ferramentas de construção de uma cena contemporânea de forte posicionamento estético-político e de “tecno(cena)”, uma tecnologia de agenciamentos que amplia os processos de subjetivação, capaz de criar, agenciar e produzir desejos e territórios cênicos que envolvem práticas discursivas, opera enunciados e produção de sentidos, posição e representação sobre o sujeito subalterno. Mais informações em: https://www.atelievoadorteatro.com.br/ |
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