A Folha mostra o legado social do PT que ela própria sempre escondeu. Por Paulo Nogueira |
Cidadania | |||
Sáb, 29 de Julho de 2017 20:24 | |||
A Folha, depois de anos de pesquisas e levantamentos da mais extraordinária inutilidade, descobre enfim o seguinte. Vou usar as palavras do próprio jornal: “Em 13 anos de PT no poder, o Brasil distribuiu sua renda como em nenhum período da história registrada pelo IBGE. Todos ganharam. Quanto mais pobre, melhor a evolução. Foram 129% de aumento real (acima da inflação) na renda dos 10% mais pobres. Nos 10% mais ricos, 32%.” Quer dizer: num país em que a desigualdade social é o maior e mais arraigado dos males, um real câncer, são números que merecem aplausos de pé. Nenhum desafio para o país é maior do que o de reduzir a iniquidade. O abismo entre os poucos ricos e os muitos pobres é uma chaga muito mais deletéria do que a corrupção. Quanto mais igualitária uma sociedade, menos corrupta ela é. Os países nórdicos estão invariamente na ponta nas listas de países com menor grau de corrupção, e o motivo é exatamente o igualitarismo. Você proporciona boa educação gratuita às crianças, ensina a elas noções vitais de ética, dá a todos boas oportunidades, protege os mais desfavorecidos e cria uma cultura segundo a qual praticar corrupção é um horror. Sonegar na Escandinávia, como faz abertamente a Globo, por exemplo, transforma você num pária. Por mais pecados que o PT tenha cometido em 13 anos, e não são poucos, o fato de ter dado foco aos desvalidos o redime. Você tira muitas conclusões dessa reportagem da Folha. Uma é que isso – a redução – foi escondido estes anos todos, o que é um absurdo, quase um crime de lesa pátria, dado o tamanho abjeto e histórico da desigualdade. Era algo que a Folha deveria ter feito na campanha de 2012, para ajudar seus leitores a entender melhor o que estava em jogo. Outra é a inépcia do PT em se defender: como o partido não levantou, ele próprio, este tipo de coisa? Estudos dessa natureza jogam luzes onde existem sombras, o que é a tarefa mais nobre do jornalismo. Mas a imprensa brasileira faz exatamente o oposto, ou por má fé ou por incompetência: joga sombras até onde existe luz. E então você entende o paradoxo do trabalho da Folha. Mesmo com fatos acachapantes, apenas 31% dos brasileiros acreditam que sua vida melhorou nestes 13 anos de PT. Ora, ora, ora. Com o massacre cotidiano da imprensa sobre primeiro Lula e agora Dilma, a percepção das pessoas é que nestes 13 anos só houve corrupção. Avanços sociais foram censurados numa mídia partidarizada, aparelhada pela direita e frequentemente desonesta. E denúncias de corrupção, verdadeiras ou imaginárias, foram estupidamente ampliadas – não genericamente, mas contra um alvo específico: o PT. Isso quer dizer o seguinte: é fácil, é simples explicar o paradoxo. As melhoras não são sentidas porque elas são soterradas por um noticiário envenenado. E é exatamente pelo combate à desigualdade que a mídia – a voz da plutocracia predadora – tanto luta para derrubar o governo. Não há propósitos moralistas na campanha da imprensa contra Dilma e Lula. O que existe é apenas a mesma lógica que a levou, no passado, a investir contra Getúlio e contra Jango. A lógica das empresas de jornalismo é esta: defender seus interesses e os da classe que representa, a plutocracia. Para sorte da sociedade, apareceu o jornalismo digital, com sites independentes e livres que funcionam como um contraponto potente ao esforço da mídia em manter o Brasil como um dos recordistas mundiais em desigualdade social. Modestamente, nos orgulhamos de pertencer a este bloco de sites. Artigo publicado originalmente em http://www.diariodocentrodomundo.com.br/a-folha-mostra-o-legado-social-do-pt-que-ela-propria-sempre-escondeu-por-paulo-nogueira/
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