Carta aberta a Aécio Neves por Paulo Nogueira |
Dando o que Falar | |||
Seg, 08 de Setembro de 2014 05:51 | |||
Caro Aécio: qual é seu conceito de liberdade de expressão? Pergunto isso porque fui surpreendido com uma notificação judicial sua. Soube depois que outros 65 internautas tiveram a mesma surpresa desagradável. O DCM é acusado de ser um robô ou, o que não melhora muito a situação, “um grupo de pessoas remuneradas para veicular conteúdos ilícitos na internet.” Primeiro, e antes de tudo, isto configura calúnia. Somos, como bem sabem nossos 2,5 milhões de leitores únicos por mês, um site de notícias e análises independente e apartidário. O apartidarismo e a independência inexpugnáveis explicam por que crescemos mais de 40 vezes em 18 meses de existência. Jornalismo, quando se mistura a militância partidária, deixa de ser jornalismo. Essa convicção está na raiz do jornalismo do DCM. Nossa causa maior é um “Brasil escandinavo”, como gosto de dizer e repetir. Um país em que ninguém seja melhor ou pior que ninguém em razão de sua conta bancária. É certo que, dentro dessa visão do mundo, entendo que o senhor representa um brutal atraso. O PSDB, no qual votei várias vezes, lamentavelmente deu nos últimos anos uma guinada profunda rumo à direita e se transformou numa nova UDN. Hoje, o PSDB simboliza um Brasil abjetamente iníquo. Os privilegiados estão todos a seu lado nestas eleições, e não por acaso. Caro candidato: nunca vi o senhor, ou algum outro líder tucano, se insurgir contra o mal maior do Brasil – a desigualdade. Nossos problemas com o senhor residem apenas no campo das ideias. Não fabricamos fatos, não inventamos coisas que o constranjam, porque não é este o tipo de jornalismo que praticamos. Mais que isso: não fazemos acusações levianas e irresponsáveis como as que o senhor fez contra nós. Se condenamos coisas como o aeroporto de Cláudio é porque entendemos que elas são a negação do “Brasil escandinavo” pelo qual tanto nos batemos. Não admiro sua postura com frequência, reconheço. No debate do SBT, quando um jornalista lhe perguntou sobre a visão de ética tucana depois de citar escândalos como o do Metrô de São Paulo e o Mensalão mineiro, o senhor disse que vivemos num estado de direito. Ninguém é culpado antes que se apurem os fatos, o senhor afirmou. Perfeito. Mas poucos dias depois, quando começou a circular uma lista de pessoas citadas por um ex-diretor da Petrobras, o senhor se apressou em fazer uma condenação ampla, geral e irrestrita. “É um novo Mensalão”, o senhor decretou. Estado de direito, portanto, é para o senhor e os seus amigos. Para os demais, o opróbrio imediato, a humilhação instantânea. Notemos também que o senhor prega a meritocracia ao mesmo tempo em que sua irmã ocupa um posto nobre no governo de Minas, pago pelo dinheiro do contribuinte. Vários relatos contam a dificuldade de fazer jornalismo independente em Minas. Isso ficou notavelmente claro para mim quando vi a sua notificação judicial contra nós. Jornalismo bom para o senhor, aparentemente, é o jornalismo que o aplaude. Fico pensando como seria complicado, para os jornalistas independentes, conviverem com o senhor na presidência. Felizmente, é uma hipótese de chance virtualmente equivalente a zero. Por ora, é só. Provavelmente voltarei a escrever para o senhor assim que ficar mais clara sua ação judicial. Grato pela atenção. Paulo Nogueira, diretor editorial do DCM Artigo publicado originalmente em http://www.diariodocentrodomundo.com.br/carta-aberta-a-aecio-neves/
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