É, praticamente, impossível chegar a qualquer compromisso em Salvador, durante o dia, sem estar suado. A cada ano que passa, parece que o calor aumenta na cidade. Essa sensação tem relação direta com a falta de áreas verdes, como explica Carolina Dell Pilar, especialista em conforto térmico e professora do curso de Arquitetura e Urbanismo na UNIFACS.
De acordo com ela, a presença da vegetação na área urbana impacta de duas formas: no conforto físico e no conforto psicológico. As áreas verdes criam um microclima. “Quando vem um vento quente e passa pela árvore ele é resfriado. Isso vai permitir que as temperaturas do vento diminuam”, explica a arquiteta. Além disso, as árvores contribuem para filtrar o gás carbônico liberado no ambiente.
A presença de árvores e outras plantas, além de tornar o ambiente mais agradável, interfere diretamente no bem-estar. “Quando vamos a um parque e vemos uma árvore, nos sentimos bem. Isso é o conforto psicológico. Inevitavelmente, ele se transmuta em um conforto físico, é uma relação direta. Se a gente começa a tirar todos os elementos, estamos contribuindo com o estresse psicológico da pessoa”, declara Carolina.
Pavimentação excessiva
O principal problema ocasionado pela pavimentação e supressão da vegetação é o aquecimento. “Quando a gente começa a pavimentar e elimina as árvores, aumentamos a temperatura. Existem diversos estudos que falam que essa variação pode ser de 5ºC a 8ºC, em algumas cidades até mais”, enfatiza a arquiteta. “Em uma cidade como Salvador, é uma problemática grande no sentido de que se a gente retirar áreas de árvores você cria uma mudança completa do ambiente”, frisa.
Possível solução?
Para vislumbrar uma solução, ela aponta que o primeiro passo é entender como a cidade funciona e quais são as necessidades reais. “Assim eu consigo fazer um planejamento e ele precisa ser bem estudado por especialistas das diversas áreas, que consigam desenvolver as soluções. Não é algo muito simples de ser feito, mas é possível”, diz.
Ela avalia que “estamos cometendo erros que já foram cometidos em outros países para depois tentarmos ajeitar. Mas a capacidade que temos de ajeitar é menor, justamente porque não dispomos do poder econômico que outros países possuem. Esse é um dos perigos”.